Consciência? Negra, branca, incolor? Ou consciência humana?

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Consciência Humana

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Ao dizer que o racismo é praticado por “brancos, negros, pardos, ortodoxos, judeus, europeus”, estamos tocando em um ponto crucial.

O texto do nosso colaborador e produtor Cultural Manoel Goes Neto publicado no Dia da Consciência Negra suscitou reações. Outro colaborador, o jornalista Jesus Maria, levanta a questão a partir de Goes, mirando nas palavras do ator Morgan Freeman.

“Sim, é uma excelente discussão”, diz Jesus Maria, que se assina assim para não perder seu emprego fixo.

DEBATE BOCA |

Consciência humana tem cor?

Untitled-1.webp 31 de março de 2024 51 KB
Jesus Maria

Jesus Maria

Sim, é uma excelente discussão! O Dia da Consciência Humana, quando abordado em contraste com o Dia da Consciência Negra, abre um espaço valioso para refletir sobre o racismo e suas múltiplas dimensões, sem reduzi-lo a uma questão apenas racial, mas como um fenômeno estrutural mais amplo, que envolve atitudes, sistemas de poder e relações sociais complexas.

A frase do ator Morgan Freeman, que sugere que o fim do racismo estrutural viria com a ampliação da consciência humana, é provocativa e merece uma análise crítica.

A visão de Freeman propõe uma solução aparentemente simples: se as pessoas simplesmente “olhassem umas para as outras como seres humanos”, o racismo desapareceria.

No entanto, essa perspectiva pode ser vista como uma simplificação excessiva do problema. O racismo não é apenas uma questão de atitudes individuais ou de consciência; ele é também um sistema de opressão institucionalizado que envolve séculos de história, desigualdade e práticas de exclusão.

Ao dizer que o racismo é praticado por “brancos, negros, pardos, ortodoxos, judeus, europeus”, estamos tocando em um ponto crucial.

O racismo não é exclusivo de um grupo racial ou étnico. Ele se manifesta de diferentes maneiras em diversas culturas e contextos, e até mesmo dentro de grupos marginalizados.

Por exemplo, pessoas negras ou indígenas podem reproduzir comportamentos racistas ou preconceituosos em relação a outros grupos dentro de suas próprias comunidades, seja por um processo de internalização das hierarquias raciais ou devido a preconceitos históricos específicos de suas realidades locais.

Isso nos leva à questão do “racismo estrutural”, que não é apenas uma expressão de preconceito individual, mas sim uma prática que permeia instituições, leis, políticas públicas, mercados de trabalho, educação e mídia.

Mesmo que, teoricamente, as pessoas de diferentes etnias ou origens culturais tivessem “consciência humana”, isso não resolveria o problema enquanto as estruturas sociais que sustentam a desigualdade racial continuassem a existir.

O racismo estrutural se perpetua por meio de práticas cotidianas invisíveis e, muitas vezes, por normas sociais tidas como naturais ou inevitáveis.

Ele está presente, por exemplo, na forma como pessoas negras ou indígenas são marginalizadas no mercado de trabalho, na educação, ou no sistema de justiça.

Além disso, as representações sociais e midiáticas de certos grupos também alimentam estereótipos raciais que impactam negativamente a forma como as pessoas se veem e são vistas pela sociedade.

A proposta de um Dia da Consciência Humana poderia ser uma oportunidade para ampliar a discussão sobre o racismo, sem esquecer de sua dimensão histórica, econômica e política.

Em vez de simplificar o problema, esse dia poderia incentivar uma reflexão mais profunda sobre como as estruturas sociais e culturais precisam ser repensadas para que possamos realmente alcançar uma sociedade mais igualitária.

Isso exigiria, entre outras coisas, um compromisso com a transformação das instituições, o combate às desigualdades estruturais e a promoção de uma educação antirracista que não se limite a tratar do racismo apenas como um fenômeno individual, mas como algo que se manifesta em todos os níveis da sociedade.

Portanto, um Dia da Consciência Humana poderia ser uma ótima oportunidade para encarar o racismo em suas diversas formas e instâncias, desafiando não apenas atitudes pessoais, mas também as estruturas de poder que sustentam a discriminação racial.

A chave seria integrar a reflexão sobre a humanidade em sua totalidade, levando em conta as diversas vivências e as complexas interações entre os grupos, sem reduzir a questão racial a um simples exercício de empatia ou de “tomar consciência”.

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Don Oleari - Editor Chefão

Radialista, Jornalista, Publicitário.
Don Oleari Corporeitcham