Esfirra II
Aqui
Rubens Pontes
Meus poemas de sábado
Foram muitos e animadores os comentários para a coluna sobre a migração de sírios libaneses para o Espírito Santo.
Inúmeros descendentes mostram, sobretudo, seu reverenciado amor por seus ancestrais e um legítimo orgulho pela determinação e conquistas plantadas e conquistadas ao correr do tempo pioneiro até os tempos atuais.
O Portal Don Oleari registra e agradece os comentários, que podem ser vistos lá embaixo. E muitos outros estão chegando.
O autor da coluna reitera seu firme propósito de homenagear grupos pioneiros que deixaram seus lares e suas terras cruzando os mares para territórios em fase de modernização (Rubens Pontes).
Esfirra II
– “Não me desafie com 10 linhas porque isso é para os fracos”, reagiu, como sempre afável e bem humorado, o jornalista José Caldas da Costa, que descobri ser “do Alegre”, quinenqui dizem alegrenses, ao meu desafio para um textim sobre “os turcos” do pedaço.
José Caldas da Costa, nascido no Alegre, fala, a propósito, de sua experiência pessoal com descendentes libaneses em magnífico trabalho que o Portal Don Oleari publica agora na coluna semanal, criada e assinada pelo jornalista Rubens Pontes, véi integrante da nossa tchiurma (Don Oleari).
Os “turcos”
do Alegre
José Caldas da Costa, jornalista
Cresci entre os “turcos” do Alegre, assim como entre os pretos de minha infância. Os “turcos” estavam por todo canto na minha cidade, especialmente no comércio e nas minhas salas de aula.
Professor Amin (que era Felipe da Silva, vejam só!) foi um dos criadores do antigo Colégio Estadual, onde estudei boa parte de minha adolescência e juventude. Foi ele também que inaugurou as caminhadas de madrugada com fins de saúde, antes de o Dr. Cooper inventar a moda.
Trabalhei para muitos deles quando o trabalho abaixo dos 14 anos não era quase um crime inafiançável.
Para os Tannure Simão, no escritório de contabilidade: seu Elias era jornalista e morreu com mais de 100 anos; Francisco Chebel introduziu-me ao catolicismo, antes de minha opção adulta pelo protestantismo; Simeão era meu fiel frequês quando eu era jornaleiro; para os Cade no posto de gasolina; para os Alcure na casa de tecidos – onde aprendi a apreciar os charutos (a tradicional comida, bem entendido).
Fui colega de sala dos gêmeos Cláudio e Cláudia, que me serviam os impagáveis quibe de coalhada e pastel de camarão no Bar Pico da Bandeira, de “seu Pedro” Tannure, onde também experimentei cerveja pela primeira vez como uma espécie de ritual de passagem da adolescência para a juventude.
Adelino enchia nossos olhos com o seu calhambeque 1927, que desfilava nas festas da cidade e despertava a atenção de todas as meninas mais bonitas do Alegre, como na música do Roberto, quando passeava pelas ruas calçadas de paralelepípedo, os mesmos que me esfolavam joelhos e cotovelos nas inúmeras quedas de bicicleta ou arrancavam tampos do dedão nas peladas de rua.
Quando penso no Alegre, minha imagem mais forte é do centenário Solar Miguel Simão, ainda hoje imponente, embora merecesse melhor conservação, como a anunciar aos viajantes que ali já foi uma terra de 120 mil habitantes no início do século passado, que encolheu quatro vezes.
Atualmente, conta com uma população estimada de menos de 30 mil habitantes: 29.869 pessoas, segundo dados de 2021.
“Saidinho” – Assaed Cade – desfilava com um radinho de pilhas, que todos desejávamos, “vendo” os jogos do Flamengo ouvindo a Rádio Globo, ou acompanhando as intermináveis guerras do Líbano.
Nossas noites eram embaladas pelas músicas da playlist do Rachid Abdalla em sua A Voz da Cidade, que nos trazia também as últimas notícias da política nacional e internacional, “antes mesmo do Repórter Esso”. E também era o canal pelo qual sabíamos quem havia morrido – porque naqueles tempos a desgraça já dava mais audiência do que boas notícias, como os nascimentos de crianças, por exemplo.
Rachid era nosso Chacrinha ou nosso Silvio Santos. Paulo Guenim Simão mostrou-me pela primeira vez os segredos da revelação fotográfica, a mesma escola do meu amigo Zezé de Oliveira, que ficou famoso nessa arte.
Na igreja crente de minha mãe, convivi com os Amado e Aride. Os libaneses entre nós eram cristãos e flexíveis na religião.
Eles eram praticamente os donos da cidade. Os “turcos” de minha infância são inesquecíveis. E frequentavam o anedotário nos tempos em que ninguém morria de depressão por causa de bulliyng.
Alegre, proporcionalmente, era a maior colônia dos “brimos” no Espírito Santo, assim como dos espanhóis dos quais descendo por parte de avó paterna.
Vai um quibe aí? (José Caldas Costa).
José Caldas da Costa, jornalista, nascido no Alegre-ES.
É geógrafo e escritor, pós-graduando em Desenvolvimento Humano e Psicologia Positiva.
Adonis, o poeta deste sábado
A seguir, os poemas que a coluna selecionou para mais esta edição especial dedicada à colônia sírio-libanesa do Espírito Santo
Poemas de Adonis
Adonis (em árabe: أدونيس, pseudônimo de Ali Ahamed Said Esber) nasceu Al Qassabin, Lataquia, ao norte da Síria, em 1 de janeiro de 1930. Está com 93 anos. É um poeta e ensaista sírio. Sua carreira literária se desenvolvou no Líbano e na França. Ali Ahamed Said Esber é autor de cerca de vinte livros em língua árabe.
Poeta, pensador, ensaísta, considerado o máximo expoente da poesia árabe contemporânea, Ali Ahmad Said Esber, nascido no norte da Síria
Ali Ahmed Said Esber
O cântico da mulher
De lado,
Tinhas o rosto de um homem idoso
Que, assaltado por dias de mágoa,
Me trouxe o seu frasquinho esverdeado
E pedia que tomasse a última refeição.
Esse frasquinho é uma enseada,
O casamento de um barco com uma enseada
Nos dias em que as praias se afundam
E as gaivotas encontram os rostos
E o capitão pressente o seu futuro.
Ele veio cheio de fome até mim, eu dei-lhe o meu amor
Como um pão, como uma bilha, como um leito
E abri as portas ao vento e ao sol
E partilhei com ele a última refeição.
O cãntico do homem
De lado
Vi o teu rosto pintado no tronco da palmeira
O sol negro nas tuas mãos
Então montei a minha saudade da palmeira
Trazia a noite num cesto, trazia a cidade às costas
E polvilhei-me à volta dos teus olhos, estudei
O meu rosto
E vi o teu rosto, havia nele a fome de uma criança
E esconjurei-o com fórmulas mágicas
E polvilhei- o com jasmim
Homem e mulher
Mulher: quem és tu?
Homem: um bobo expatriado
Da rocha dos meteoros,
Da raça do demónio.
E tu, quem és?
Viajaste pelo meu corpo?
Mulher: sempre e repetidamente.
Homem: o que viste?
Mulher: vi a minha morte.
Homem: trazias o meu rosto?
E olhaste a minha sombra como um sol?
E olhaste o meu sol como uma sombra?
E desceste às minhas profundezas e descobriste-me?
Mulher: e tu, descobriste-me?
Homem: se me descobriste, foste capaz
De me convencer?
Mulher: não.
Homem: fiz-te bem e tiveste receio?
Mulher: sim, sem dúvida.
Homem : e reconheceste-me?
Mulher: e tu, reconheceste-me?
Manifestações de descendentes de sírio-libaneses:
Felicia Scabello Silva
Meus antepassados mais longe da família do avó paterno… Abdai Abineder… Sírio, casou -se com Esnei Fadul Abineder. Ela era libanesa.
Elias de barros
Muito bacana e com muito esclarecimento. Eu sou de Mimoso do Sul e lembro bem que nos anos 1960 e 1970 era muito grande o domínio de sírios e libaneses no comércio em geral, bares, padarias, armazéns, lojas de tecidos e outros.Um detalhe curioso é que po… ver mais
Renato Peterli
Show. O professor Adilson Silva Santos acabou de lançar também sua tese “Sírios e libaneses no sul do ES” pela Ufes.
Elida Salvador Cellia
Aqui em Nova Venécia tem duas famílias turcas ou sírio-libanesas, descendentes de dois irmãos que vieram para oES. O interessante é que eles têm sobrenomes diferentes. Tem os Rodor e os Abraão. Segundo a bem humorada versão de uma parenta, é q… ver mais
José Marques Porto
Parabéns! Excelente trabalho, resgate sensacional. Achei o imigrante sírio que casou com minha tia avó paterna, pessoas muito queridas.
Zelia Sonegheti
Essa loja Flor de Maio sobreviveu acho que até a década de 80 vendendo chapéus. Nem sei o que funciona no local.
Anna Roberta
Muito bacana, o projeto!
Rose Leppaus
Muito interessante 👏👏👏
Aparecida Maria Barroca
Nessa loja meu pai Alfredo Pacheco Barroca, comprava seus chapéus.
Aparecida maria barroca
Meu avô Basílio Keijok também era sírio-libanês. Casou com minha avó Olga Mazzoco (os dois falecidos).
Sergio Marcondes
Minha avó paterna era da família Bichara, de Itapemirim/ES.
Moana Stadler Leandro
Thomé. Da minha avó paterna.
Conceição Cesconetto
Daher, de onde veio Cilmar Francischetto? Era minha avó.
Conceição Cesconetto Daher
Conforme a lista são libaneses.
Eduardo Nogueira Archanjo
Olha aí leo nassar llan
Fabio Gabriel Xavier
Acredito que a Flor de Maio foi a loja mais resistente no espírito santo.
Em uma época que já não se usava chapéus, a Flor de Maio estava com as portas abertas sem nenhum cliente!
Zenilda Auxiliadora
👏👏👏👏👏👏❤😘👏
Bertoldi Ottini
Em Guarapari as lojas Balãozinho são de libaneses.
Ronald Mansur
Obrigado, em nome da nossa colônia libanesa.
Randal Fernando Leandro Tico
Minha avó, Nayme Thomé
Leonardo Fonseca
Terzian é armênio. Síria e Líbano receberam muitos armênios e até hoje existem descendentes de sobreviventes do genocídio de 1915.
Leonardo Fonseca
Cátia morais , tem parentes no ES? Olha teu sobrenome aí rs
Leonardo Fonseca
Ângela lopes
Luiz Antonio Murad
Tem que verificar a procedência dos imigrantes, os primeiros vieram com passaporte turco, depois sírio-libanês pelo domínio que estes países tinham sobre o Líbano. E depois alguns tiveram direito a cidadania francesa durante o domínio francês.
Julisson Brumana
Meu bisavô João Brumana (Brumana era o nome da cidade de origem, o sobrenome real era Zalzal) chegou ao ES em 1889 e trabalhou como mascate no sul do estado. Retornou ao Líbano e voltou ao brasil com três dos cinco filhos e o irmão. Meu bisavô então ab… ver mais
José Helvídio Zamprogno
Comprava muito nesta loja já nos anos 80 e 90! O dono era bem velhinho, quase não se via. Ficava uma gerente que atendia muito bem! Haviam chapéus, cinto, carteiras, guarda- chuvas, bolsas, malas. Tudo era de boa qualidade!! Época boa!!!
Ellen Marā
Pedro Gomes Moreira Neto
Jorge Eduardo Saadi
Que bacana! Na página 1157 achei o registro de entrada do meu bisavô, Antonio Abdo Saadi!
https://twitter.com/donoleari
Esfirra II
Rubens Pontes: mais do que “esfirra”, sírio-libaneses contribuem para o crescimento do ES | 11/3
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