Espírito Santo
Coluna AQUI RUBENS PONTES
MEUS POEMAS DE SÁBADO
O Don Oleari, Portal de Notícias – www.donoleari.com.br – vem abordando por esta Coluna semanal aspectos da ocupação do território do Espírito Santo ainda em fase de colonização.
Tenho dado especial atenção para o fluxo imigratório a partir de 1812, quando foi criada a Colônia Santo Agostinho, onde hoje está o atual município de Viana, situado na região metropolitana da Grande Vitória, no começo da BR 262.
Esse período de ocupação e desbravamento destas terras então dominadas por agressivas tribos indígenas teve impulso com a montagem da Colônia Imperial de Santa Isabel, às margens do Rio Jucu, para onde foram deslocados 163 imigrantes europeus, todos eles alemães da Renânia. A colônia Santa Isabel no futuro seria integrada ao atual município de Domingos Martins.
Esse grupo se instalou na região no dia 21 de dezembro de 1846.
Italianos, pomeranos, libaneses, franceses, poloneses… com menor afluência belgas, suíços, holandeses, além de centenas de escravos africanos, foram todos alocados na Fazenda Limão, propriedade que se tornaria, a partir de 1861, uma Colônia Oficial do Governo Imperial.
Com a abolição da escravatura, em 1888, o fluxo de imigrantes ganhou novo impulso, com as novas levas de famílias camponesas canalizadas para as antigas fazendas de escravos, principalmente lavouras de café.
Açorianos
Entre os imigrantes europeus e seus descendentes, muitos nomes tiveram destaque se empenhando em criar, do lado de cá do Atlântico, novo núcleo de civilização.
Esta Coluna vem abordando esse espectro das conquistas de novos espaços, mas também deixando involuntariamente escapar fenômenos que, felizmente, não são escamoteados pela nossa História.
A historiadora Fabiene Passamani Mariano torna menos contundente nossa omissão quando grafou:
“O município de Viana, localizado na Região Metropolitana da Grande Vitória – ES, bem como os açorianos que iniciaram o povoamento do seu território, nunca foram alvo de grandes investigações “.
O Editor Chefão Don Oleari nos faz lembrar o período em que aportaram no Espírito Santo imigrantes da Ilha dos Açores, em novembro de 1812, encaminhadas para o Sertão de Santo Agostinho – atual Viana – em fevereiro de 1813.
E, por acréscimo, ele cita o registro de uma colônia de açorianos no Distrito de Regência, município de Santa Leopoldina, vizinho dos municípios de Cariacica, Serra e Viana.
Das nove ilhas do Arquipélago dos Açores (*) vieram em 1819 para o Espírito Santo, na primeira fase imigratória, trinta casais de açorianos, ano em que coincidentemente o território se tornara Governo do Espírito Santo, independente do governo da Bahia.
(*) Ilhas São Miguel, Terceira, São Jorge, Santa Maria, Pico, Faial, Graciosa, Flores, Corvo.
Foi o primeiro empreendimento oficial de colonização agrícola no Brasil por meio de mão de obra familiar imigrante.
Os açorianos solteiros casaram-se no Espírito Santo e tiveram descendentes que atingiram na política as mais importantes conquistas, como os filhos de João Rezende da Costa, imigrante da Ilha de Santa Maria, no Arquipélago dos Açores: Eurico Rezende, Cristiano Dias Lopes Filho, Ricardo de Resende Ferraço.
Também na linha sucessória de açorianos nascidos nas terras do Espírito Santo, são evocados os nomes de Aristeu Borges, Presidente do Estado do Espírito Santo em 1928, Rangel Pimentel, Mario Armando Furtado Jardim e Manoel Vieira de Albuquerque.
Na nossa geração, o historiador Paulo Streck de Moraes anotou o nome de Rubens Gomes (filho do luso Joaquim Gomes) e antes dele os de Manoel Câmara e do Governador entre 1804 e 1811 Manoel Vieira de Albuquerque Tovar.
Uma gostosa surpresa
Filha de imigrantes portugueses, a mãe Matilde Benevides, natural da Ilha de São Miguel, nos Açores, e de Carlos Alberto Carvalho Meireles, do Continente, Cecília Meireles nasceu no Rio de Janeiro em 1901.
Na poesia, nos ensaios, nas crônicas, nas pesquisas folclóricas, Cecília Meireles se destacaria no Século XX por uma escrita com fortes marcas de sua ascendência açoriana.
Escritora, jornalista, professora e pintora, foi detentora de honrarias como o “Prêmio de Poesia Olavo Bilac”, “Prêmio Jabuti” e “Prêmio Machado de Assis”.
Antes disso
Sua infância foi dificultada por problemas pessoais gerados pela morte prematura de seus pais, aos 3 anos de idade.
Foi educada pela avó materna, a açoriana Jacinta Garcia Benevides com a participação da pajem Pedrina.
Em sua autobiografia “Olhinhos de Gato”, lançada inicialmente em capítulos na Revista Oriente, em Portugal, Cecília Meireles relata liricamente parte de sua infância ao lado da avó e da pajem, suas percepções e pensamentos no início de sua vida no Rio de Janeiro.
Seu casamento com o artista plástico português Fernando Correia Dias, residente na então Capital brasileira desde o início da Primeira Guerra Mundial, possibilitou à escritora e poeta permanente contato com seus companheiros intelectuais e com críticos literários de Portugal, como narra Sachet em sua” Introdução às Cartas”, em 1998.
Uma das mais brilhantes poetas brasileiras, com renome internacional, Cecília Meireles assina o poema com que o Don Oleari, Portal de Notícias – www.donoleari.com.br – e o Colunista encerram este ligeiro levantamento com suas homenagens aos açorianos e à sua descendência.
Rubens Pontes, jornalista – [email protected]
Capim Branco, MG
Este é o lenço
Cecilia Meireles
Este é o lenço de Marília,
pelas suas mãos lavrado,
nem a ouro nem a prata,
somente a ponto cruzado.
Este é o lenço de Marília
para o Amado.
Em cada ponta, um raminho,
preso num laço encarnado;
no meio, um cesto de flores,
por dois pombos transportado.
Não flores de amor-perfeito,
mas de malogrado!
Este é o lenço de Marília:
bem vereis que está manchado:
será do tempo perdido?
será do tempo passado?
Pela ferrugem das horas?
ou por molhado
em águas de algum arroio
singularmente salgado?
Finos azuis e vermelhos
do largo lenço quadrado,
— quem pintou nuvens tão negras
neste pano delicado,
sem dó de flores e de asas
nem do seu recado?
Este é o lenço de Marília,
por vento de amor mandado.
Para viver de suspiros
foi pela sorte fadado:
breves suspiros de amante,
— longos, de degredado!
Este é o lenço de Marília
nele vereis retratado
o destino dos amores
por um lenço atravessado:
que o lenço para os adeuses
e o pranto foi inventado.
Olhai os ramos de flores
de cada lado!
E os tristes pombos, no meio,
com o seu cestinho parado
sobre o tempo, sobre as nuvens
do mau fado!
Onde está Marília, a bela?
E Dirceu, com a lira e o gado?
As altas montanhas duras,
letra a letra, têm contado
sua história aos ternos rios,
que em ouro a têm soletrado…
E as fontes de longe miram
as janelas do sobrado.
Este é o lenço de Marília
para o Amado.
Eis o que resta dos sonhos:
um lenço deixado.
Pombos e flores, presentes.
Mas o resto, arrebatado.
Caiu a folha das árvores,
muita chuva tem gastado
pedras onde houvera lágrimas.
Tudo está mudado.
Este é o lenço de Marília
como foi bordado.
Só nuvens, só muitas nuvens
vêm pousando, têm pousado
entre os desenhos tão finos
de azul e encarnado.
Conta já século e meio
de guardado.
Que amores como este lenço
têm durado,
se este mesmo está durando?
mais que o amor representado?
Espírito Santo
Edição, Don Oleari – [email protected] – https://www.facebook.com/oswaldo.oleariouoleare
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