ideias secretas de Dorian Gray
ideias secretas de Dorian Gray, que acha que nenhum animal de estimação se sente amado
Reproduzido no Don Oleari Portal de Notícias com autorização do autor
Foto de capa: In Memoriam | Os dois Paulos: o autor desta crônica e o saudoso Paulo Eduardo Torre.
Pensando, pensando, pensando
Crônica |
Paulo Bonates
Resolvo passear às tardinhas pelas ruas da Praia do Canto. Quase todo mundo arrasta um cão, coleira adiante.
Segundo Dorian Gray, meu cão vira-lata, nenhum animal de estimação sente-se amado, porque o desejo secreto dos donos é abolir sua natureza.
Ele submete-se à minha tutela, porque nenhum canino tem verdadeiramente para onde ir, não existe sequer uma raça que seja feliz renunciando à sua identidade.
Um cão só se sente autêntico quando morde. Eles se acham com direito às suas vontades e latidos (os gatos também).
A vontade política do meu cachorro Dorian é colocar uma coleira em mim e juntar-se à cadela Matilde, que mora defronte de casa, para fazer amor. Diz que uma verdadeira raça não vive de lamber o dono, porque se basta.
Fico de olho no safado e cito exemplos desanimadores.
Dorian, você viu o que aconteceu com Zelensky, que quer tirar a coleira de seu proprietário, o Putin, colocando o mundo inteiro em guerra?
A bela Rachel, comparsa antiga, vive sob as ordens de uma gata velha e assanhada, que se esfrega em todo mundo, e não faz nada sem pedir permissão à Chloé, caso contrário, a felina, que se acha, faz coisas horrorosas.
Já Dorian, intelectual e independente, leitor de Eça de Queiroz, diz que o escritor lusitano compartilhou residência com uma gata inglesa, a Pussy, que falava, dizem, português e tinha sacadas filosóficas.
Considero o Dorian um ser e desconfio que sua depressão que vaivém o obriga a torcer, como me coube a mim, pelo América do Rio, embora não me tenha dito isso diretamente.
Ninguém confessa essas coisas.
O vira-lata jamais se submeteria a ir comigo a um restaurante encontrar os amigos da Turma do Bacco, muito menos encoleirado.
Fica em casa assistindo na TV o que o ex-presidente e seu séquito faz, ou deixa de fazer, com as famosas jóias presenteadas mundo afora. Difícil lidar com isso: o assunto é chulo.
Eu me contento com o meu relógio Mido, folheado a ouro, que conservo desde a adolescência, e não foi presente de nenhum governo estrangeiro, mas amor de pai, no dia do meu aniversário.
Os colegas do ginásio para testar perguntavam :
“Já foi com o Mido n’água?” Pura inveja.
Marca hora, dia do mês e da semana, não tendo atrasado ou adiantado nestes anos todos, uma única vez.
Dorian Gray , meu cão vira-lata, diz gostar da volta à luta.
ideias secretas de Dorian Gray
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