labirinto
Artigo |
Kleber Frizzera (*)
Sentinela, quando resta da noite?
Sentinela, quando resta da noite? (Isaias 21,11)
Uma cidade é como um labirinto, onde atravessamos, caminhamos perdidos, as ruas, retas e curvas, nos deparamos com eventos cotidianos e surpreendentes acontecimentos, e precisamos de um mapa, uma linha de orientação para que possamos acessar a seu centro, matar o monstro e retornar à nossas casas.
Há duas maneiras de escapar de um labirinto, voando, voando como os pássaros, ou com um meio, um artificio para orientar-se nas suas dobras e sinuosidades, como o fio vermelho que Ariadne forneceu a Teseu, que fez que o herói, após matar o Minotauro, monstro com corpo de homem e cabeça de touro, pudesse retornar ao mundo dos vivos.
Um cordão umbilical que encaminha a humanidade a um renascimento, o fio vermelho doado por Ariadne faz parte de um mito, uma história de um caminho para a salvação, um mistério da morte e ressureição, onde no final Ariadne é sempre abandonada por Teseu.
Segundo Joseph Rykwert, esta lenda é comum no mundo antigo desde a viagem do herói mesopotâmico Gilgamesh a um bosque labiríntico, passando pelas sete voltas dos hebreus em torno de Jericó, para que caíssem os seus muros e continua nas lendas do mundo romano.
O labirinto era uma imagem sintética da cidade antiga, que a protegia e a regenerava, como a cidade de Troia, paradigma dos destinos de todas as cidades, que, destruída pela guerra, é restaurada por Eneas, em Roma.
No mundo moderno, conhecer é perder-se na cidade, é caminhar sem rumo, percurso, direção, é desfazer-se de um destino ou do centro a disputar, como um nômade urbano que a cada dia refaz seu deslocamento, sem mapas ou documentos.
Nas atuais metrópoles expandidas, sem limites, em viagens, somos derrotados de antemão, incapazes de desenhar constelações que orientem uma ordem estável, mesmo quando o google maps parece informar com precisão o percurso e tempo futuro ao objetivo desejado.
O logos caminha em espiral, nunca retorna ao mesmo ponto de onde partiu, nunca encerra um ciclo, escreve Carlos Leite Brandão, e quando ele permanece em um diálogo, “as coisas começam a existir quando nomeadas”.
A cidade e o conhecimento nascem em comum, ao mesmo instante e “cada momento da cidade contém todas as origens”, e assim todas as cidades são uma só, todas a cidades são Veneza, informa Marco Polo a Kublai Khan.
Todas as cidades são um labirinto como Veneza, e seguindo o fio vermelho que nos foi oferecido, ultrapassamos as vielas, canais e pontes e chegamos à praça e à catedral de São Marcos, que tudo contém, a beleza do próximo e o infinito do mar.
Vitória, como outras, e igual a muitas, também é um labirinto.
Suas ruas se encerram no mar, onde navios se espalham, suas ladeiras se estendem ao parque da Fonte Grande, suas avenidas, planejadas, tentam impor ritmos e longos olhares ao convento da Penha, suas ruas na planície e aterros se cruzam ortogonalmente, e suas vielas nos morros e ocupações se desdobram em inúmeros becos e cantos.
Haverá meios e mapas de atingir o seu coração, ali encontrar e enfrentar no centro seus fantasmas acantonados, todos de prontidão, ao curioso efeito, o fim de suas esperas, a redenção, condenados no tempo à solidão?
Ou sem mais centros a conquistar ou monstros a enfrentar, sobra-nos navegar encerrados neste labirinto infinito, tão hábil projeto dos homens, que sem ajuda, sem a espada e o fio vermelho, dele não conseguiremos mais escapar (Kleber Frizzera).
Kleber Frizzera
Dezembro 2023
(*) Kleber Frizzera | Graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Minas Gerais (1971) e mestrado em Arquitetura pela Ufes (Universidade Federal do ES – 1998).
Foi secretário municipal de Desenvolvimento da Prefeitura de Vitória/ES (2006/2012) e professor adjunto da Universidade Federal do Espírito Santo ( 1978/2015) – https://www.ufes.br/. Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Fundamentos de Arquitetura e Urbanismo, atuando principalmente em projetos de arquitetura, arquitetura teoria e crítica, arquitetura áreas centrais, planejamento territorial e renovação urbana.
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