Natal
CRÔNICA
Carlos Alcestes de Queiroz
Com a aproximação do Natal, veio-me uma observação que, confesso, não sei por que ainda não havia “assuntado”, como dizia uma velha e querida empregada de nossa casa, Dona Maria, figura que me criou e me amou como uma verdadeira mãe. Tive a sorte de ter duas “mães”.
Ao passar pela nossa sala de estar, percebi que o destaque das alegorias natalinas eram as árvores de Natal, de vários tamanhos e finalidades.
Uma delas encanta sobremaneira o meu neto Vicente. Quando alguém passa diante dela, ele começa a cantar músicas natalinas em inglês, provocando divertidos sustos nos transeuntes. Sobre um pequeno armário, temos um presépio discreto e escondido, tentando sutilmente lembrar o nascimento de Cristo.
Nas casas dos meus filhos, a situação se repete. Na casa do Hilton, que mora nos Estados Unidos, a árvore é muito maior, principalmente por conta do pé-direito duplo, permitindo uma altura maior.
Lá, pouquíssimas casas têm um presépio próximo à árvore de Natal. O local de destaque é sempre para a árvore e a figura diversificada do Papai Noel, presente em várias situações e locais.
Nas casas de amigos, as decorações natalinas seguem o mesmo padrão: o destaque é a árvore, decorada e iluminada com lâmpadas coloridas e piscantes, sombreando os embrulhos bonitos, com presentes diversos em seus interiores.
Noto que, ao longo dos anos, o Natal tem dado mais valor ao saco de presentes do Papai Noel do que à cruz de Cristo. Sim, o Natal se tornou uma festa estritamente comercial, consequência de termos ensinado aos nossos filhos e netos que a cerimônia de dezembro começa bem antes, com uma carta “enviada” ao Papai Noel, solicitando os aguardados presentes.
Na inocência delas, qualquer criança pode enviar essa carta, independentemente do poder aquisitivo de seus pais, o que torna o acesso aos presentes algo universal. Já o aniversário de nascimento de Jesus nem passa perto dessa antecipada preparação.
O Natal é, sem dúvida, a data mais importante do ano para o comércio, sendo o período de maior faturamento. Dinheiro, antes de qualquer sentimento religioso ou cristão.
Não pretendo substituir o saco de presentes por uma cruz, o principal símbolo cristão, que lembra a fase triste da vida de Jesus: sua crucificação. No entanto, é essencial transmitirmos aos nossos filhos e netos a ternura de um doce e amável Jesus.
A delicadeza da frase “Vinde a mim as criancinhas”, a tolerância, o perdão, e o acolhimento expresso em “Atirai a primeira pedra quem nunca pecou”. A cura dos enfermos e o Sermão da Montanha deveriam ser lembrados e discutidos anualmente em todas as famílias. Devemos comemorar com alegria, permitindo até tomar algumas bebidas mais fortes, afinal, Ele transformou água em excelente vinho.
Devemos celebrar a vinda ao mundo desse ser cativante e divino no dia 25 de dezembro. Esse é o verdadeiro espírito de Natal, não uma árvore enfeitada com presentes ao redor.
Vamos desmistificar o Papai Noel, que dá ótimos presentes a quem tem boas condições financeiras, mas esquece dos pobres e necessitados, o que gera a primeira e natural reação dos filhos dos sem recursos: achar que o Papai Noel não é justo, pois não atendeu aos seus pedidos, enquanto exibe uma generosidade exagerada para os filhos dos mais ricos.
Vamos festejar no Natal o nascimento de uma pessoa que tem o poder de mudar o mundo, e não priorizar os presentes dados por um velho de roupa vermelha, que só entrega bons presentes aos filhos dos que têm condições financeiras.
Carlos Alcestes de Queiroz
Engenheiro e escritor
Natal
Edição, Don Oleari – [email protected] | https://twitter.com/donoleari
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