CRÕNICA
PAULO BONATES
Reproduzido de A Gazeta com autorização do autor
“Entre os médicos, o gosto pela real História
da Medicina aparece geralmente tarde da vida”
Sir Theodore Fox
Freud morreu, Goethe morreu, Winnicott morreu, Julio de Mello morreu, George Harrison morreu, Constantino Vicentini morreu, Fleming morreu.
Luiz Buaiz morreu, Chopin morreu, Didi morreu, Garrincha morreu, Julinho Prattes morreu, Lucio Pinto Velho morreu, Tom Jobim morreu.
Antônio Batalha morreu, Melanie Klein morreu, Santo Agostinho morreu, Belchior morreu, minha mãe Mariucha morreu, Aderson de Britto Inglez morreu, Darcy Ribeiro morreu, Aristóteles morreu, Santos Dumont morreu, Paulo Torre morreu, Cariê morreu, Pedro Maia morreu, Cláudio Bueno Rocha morreu, Edgar morreu.
E eu, modéstia à parte, e não é por estar na minha presença, não estou me sentindo muito bem.
Minha querida amiga, a brilhante e bela Olga Soubbotnik, me revelou uma frase que guardo comigo:
“Se os melhores pensadores, filósofos, artistas de todos tempos, inventores, jogadores de futebol, reunissem seus melhores trabalhos, e a partir desses montassem uma biblioteca, e em seguida reunissem tudo em um livro, e desse livro escolhessem uma página e dessa página selecionassem uma frase, sabem qual seria a frase?
“Viver não é biscoito”.
Em compensação tem a história do otimista que tendo caído do nono andar de um edifício, grita, ao passar pelo terceiro andar:
“Até aqui tudo bem”.
Que me perdoem os mortos que não citei, sintam-se – sintam-se? – citados porque tudo indica que o viver e o morrer são quase a mesma coisa, só que vistos de ângulos opostos, é ou não é? Muito cuidado, porque talvez não seja.
Os cientistas ligados à arte médica, por exemplo, acham que o objetivo da Geriatria é a eternidade e alguns entendidos nas chamadas afecções demenciais consideram nesse ponto a vitoriosa chegada.
Alguns rebeldes na arte médica, que vai além da Ciência, não hesitam em mostrar uma modalidade de nova vida sobre e junto com a outra. “Il marche pa” (ao dicionário amigos, ao dicionário).
A banalização da morte em todo o mundo, particularmente nas calçadas e ambientes das cidades e das favelas, onde desponta a incapacidade de governantes e a imobilidade do público em geral em todos os países, invadem a vida plena.
Aqui no país tupiniquim a culpa não pode ser atribuída aos políticos e coisas semelhantes. A culpa – a senhora vai me desculpar – é do eleitor obrigado a votar.
A maioria do bravo povo brasileiro nem desconfia que o morrer público é patrocinado por altos podres poderes.
O meu tema predileto para o arrepio da dignidade humana continua sendo o “Orçamento Secreto”. Caro leitor, queira procurar saber o que é isso. Quando souber, espalhe.
Afinal, temos que nos posicionar.
Ninguém me pergunta, mas se me perguntassem diria que não há esquerda e direita no Brasil. É em cima e embaixo.
Neste exato momento está sendo votada a protelada correção das boquinhas que assolam o país. Por exemplo, quando chega a vez de acertar os excessos salariais dos temidos militares a coisa não anda.
Até parece que a atual democracia é uma bondosa concessão das forças armadas e não um direito conquistado a sangue suor e lágrimas do tupiniquins.
Morro de medo.
Quanto a mim, posso dizer que já lutei e luto com muita determinação. Por exemplo, deixei de torcer, desde priscas eras, pelo Flamengo e fui ser torcedor do América, por determinação e vontade do imortal tio Landinho, o maior sofredor das arquibancadas do Caxambi.
Morreu América. Não sei se seguirei o árduo caminho. Ando sondando o Fluminense.
Então.
Diziam os sábios que quem não gosta ou entende de política está condenado a ser governado, no pior dos sentidos, por eles, no pior dos sentidos.
Fala sério.
Não falo.
Dorian Gray, meu cão vira-lata, recusou tratamento humanizado, quer continuar cachorro.
Paulo Bonates é jornalista e médico. Ou versa e vice.
Vida e morte
Edição, Don Oleari – [email protected] –
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