Erlon José Paschoal: O Corvo, de Edgar Allan Poe | 23/11

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O Corvo

O Corvo

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erlon josé paschoal

Texto reproduzido com autorização do autor, a quem o Portal Don Oleari agradece a deferência.

 

Por Erlon José Paschoal

Gestor cultural, Diretor de Teatro, Escritor e Tradutor de alemão

Edgar Allan Poe nasceu em 1809 em Boston, nos Estados Unidos, e faleceu em 1849 em circunstâncias de extrema pobreza por causas desconhecidas.

Apesar de ter vivido apenas 40 anos deixou uma obra vasta e única, que exerceu enorme influência no desenvolvimento da escrita literária no mundo ocidental.

Foi contista, poeta, editor e crítico literário, e suas histórias sempre misteriosas e repletas de suspense, terror e morte, foram lidas e traduzidas em inúmeras línguas.

Considerado o criador do romance policial e da ficção de terror, era também um exímio poeta, além de um hábil e engenhosos construtor de histórias de crimes e detetives, que influenciaram muitos outros escritores, entre eles, Conan Doyle, o criador de Sherlock Holmes.

Entre seus contos mais conhecidos estão “A Queda da Casa da Rua Usher”, “Os Assassinatos da Rua Morgue”,  “O Gato Preto”, “Willian Wilson” e o “O Escaravelho de Ouro”. Teve também várias de suas obras adaptadas para o cinema. Recentemente, três de seus contos foram adaptados para o teatro aqui em Vitória, entre eles, “O Coração Delator”, que deu título ao espetáculo.

 o-corvo-1.jpgUma de suas obras sempre citadas, por seu conteúdo analítico sobre a criação poética, é “A Filosofia da Composição”, um ensaio sobre a estrutura e a composição de seu poema mais famoso “O Corvo” (The Raven).

Há uma boa edição dessa obra pela Editora 7 Letras, com tradução de Léa Viveiros de Castro. O poema “O Corvo”, aliás, teve traduções feitas por grandes escritores, entre eles, Machado de Assis e Fernando Pessoa para o português, e Baudelaire e Mallarmé para o francês.

“O Corvo” se compõe de 18 estrofes de 6 versos, num total de 108 versos, concatenados em um ritmo enriquecido por rimas internas e aliterações e por um famoso refrão ao final de cada estrofe: “never more” (nunca mais), que envolve o leitor e o mantém atento ao desenrolar da cena e aos sentimentos de perda, de esperança e de angústia expressos pelo Eu lírico.

A situação que desencadeia o poema é simples: em uma anoite assolada por uma tempestade, o Eu lírico, cuja amada Lenore havia falecido há pouco, está lendo um livro de ciências antigas, e de repente escuta uma batida que ele pensa ter sido na porta, mas que, ao abri-la e não ver ninguém, constata que o som viera da janela.

Ele a abre e um corvo entra esvoaçando com gravidade e soberba e pousa no alto do busto de uma estátua de Pallas Atena. Atônito, o amado pergunta como ele se chama e o corvo surpreendentemente responde “never more” (nunca mais). Ele então pergunta sobre a sua amada e se vai voltar a vê-la e a resposta é sempre a mesma: “never more”.

No ensaio sobre o poema, Edgar Allan Poe assinala que sua primeira opção foi pela beleza enquanto “excitação ou  elevação agradável da alma”. O que nos faz lembrar da famosa frase de Dostoievski em “O Idiota”:

“A beleza salvará o mundo”.

A partir daí, o autor refletiu sobre a dramaticidade e o tom mais adequado que deveriam provocar as “lágrimas nas almas sensíveis”, e decidiu que a melancolia seria o “mais legítimo de todos os tons poéticos”, uma característica, aliás, típica do Romantismo.

Em seguida fez a escolha do refrão curto, forte e sonoro com a vogal “o” em conexão com a consoante “r”: “never more”. Vale lembrar também que “never” é o anagrama da palavra título do poema “raven”. Com tudo isso elaborado era preciso então juntar o corvo com o amante solitário, e os colocou em um espaço fechado, um quarto ricamente mobiliado em uma noite tempestuosa e sombria. E assim se fez o poema.

É curioso como o autor em seu ensaio racionaliza a tal ponto a criação do poema que dá a impressão de ter sido uma arquitetura puramente técnica, sem inspiração, quase matemática, algo tão caro aos estruturalistas no século XX, como ele se fosse um escultor esculpindo uma obra-prima. Escreve o autor:

“É meu desígnio tornar manifesto que nenhum ponto de sua composição se refere ao acaso, ou à intuição, que o trabalho caminhou, passo a passo, até completar-se, com a precisão e a sequência rígida de um problema matemático.”

Mas o que vale mesmo para o leitor de todas as épocas é realmente a beleza, a musicalidade, a energia, o mistério e a perfeição desse precioso poema da literatura universal. Vale a leitura.

Erlon José Paschoal é Gestor cultural, Diretor de Teatro, Escritor e Tradutor de alemão.

Don Oleari Pesquisa

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Filme de 1935 com os astros de filmes de terror  da época : Boris Karloff e Bela Lugosi

Título: O Corvo
Título Original: The Raven
Ano: 1935
Direção: Lew Landers
Roteiro: Edgar Allan Poe, David Boehm
Gênero: Terror
Nacionalidade: Estados Unidos

Existe um clássico de 1963, estrelado por Vincent Prices, também baseado no poema de Edgar Allan Poe. Está no iutiubi com versão legendada ou em português (Don Oleari).

O Corvo

https://www.instagram.com/donoleare/

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Don Oleari - Editor Chefão

Radialista, Jornalista, Publicitário.
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