Pomerano
Coluna
Aqui
Rubens Pontes
O portal don oleari se vê motivado por razões expostas ao correr do texto, a tecer novas considerações sobre o papel desenvolvido pelos pomeranos no município conhecido como Santa Maria de Jetibá, na região Serrana do ES.
Este texto é um complemento do que fora anteriormente abordado sobre a fascinante cidade capixaba.
Sandra Medeiros, escritora patrícia, confirma o fato histórico de ter sido o Espírito Santo resultado de uma mistura de raças, uma herança europeia presente, por exemplo, nas danças italianas, Pomeranas, holandesas, polonesas – resistentes e renovadas – na culinária, nos festivais que ainda hoje recebem milhares de pessoas de todo o estado e até além fronteiras.
O destaque que o portal do oleari levanta, associando-se a esses registros, se refere a um fenômeno único, o movimento ocorrido no século XIX com a imigração pomerana e seus desdobramentos.
Em 1860, há 164 anos, portanto, aportou no Rio de Janeiro o primeiro grupo de imigrantes pomeranos: eram 27 famílias com 117 pessoas, após uma viagem de 2 meses cruzando o Atlântico.
Uma escala para chegar a Vitória no dia 28 de junho. A data ficou marcada como o “dia do imigrante pomerano”, desde então comemorado no Espírito Santo. O número de imigrantes teve um crescimjento expressivo. Entre 1868 e 1874 esse número subiu para 22.223.
Chegando ao Espírito Santo, os pomeranos receberam terrenos em santa leopoldina, região denominada alta Pomerânia,em meio à floresta virgem e agressiva que cobria a área, onde seria criado o município de santa maria de jetibá.
Koomt gaud an
A coluna se coloca na condição de observadora, sem opinar, registrando como dever-de-ofício, a colocação, na entrada da cidade de Santa Maria de Jetibá, de uma placa de boas vindas aos visitantes em língua pomerana.
A justificação oficial se abriga no fato de noventa por cento dos 35 mil habitantes da cidade serem bilíngues e o Pomerano ser preservado desde as crianças que aprendem a falar a língua materna antes do português.
Nas escolas da cidade, por exigência de lei municipal, é obrigatório o ensino do Pomerano como íingua co-oficial, ao lado do português.
Nos estabelecimentos comerciais os vendedores conversam com os clientes na língua dos seus antepassados. Nas esquinas da cidade o “papo” invariavelmente também é em pomerano..
Superando a ditadura
O professor Ismael Tressmann, residente na cidade, autor do dicionário pomerano-português, lembra ter a língua deixado de existir na Europa, com a região da Pomerãnia dividida em duas partes, uma anexada à Polônia e outra à Rússia.
“No Espírito Santo, acentuou ele, conseguimos manter as tradições trazidas pelos colonizadores. Cruzamos tempos ásperos, forçados a abandonar a língua durante os governos militares. À época da ditadura não era permitido falar pomerano.”.
Costumes superando o tempo
A narração é do professor Tressmann:
“..com olhos azuis, cabelos louros e pele muito clara, os moradores de Santa Maria de Jetibá seguem as tradições pomeranas, entre elas o vestido da noiva na cor preta; a sopa doce de pêssego como sobremesa no almoço dos domingos; e a apresentação de versos pelas crianças na véspera do natal garantindo a entrega dos presentes trazidos por papai noel – wijnachtsman, o homem-Natal.”
A gastronomia obedece receitas pomeranas como a comida branca (witeeten) à base de raízes, galinha e macarrão.
A economia da cidade é baseada na agricultura. A economia de Santa Maria de Jetibá cresce através dos cafezais e da produção de ovos, a segunda maior do Brasil.
Quase como se fosse cordel
Iniciativa da Academia de Letras, Artes e Cultura de Santa Maria de Jetibá tem fundas implicações com o processo migratório que marcou o povoamento da região, há mais de 160 anos.
Em cada árvore de sua principal avenida e nas ruas adjacentes foram fixadas poesias de autores brasileiros e da terra (ver foto de capa).
Com a narrativa, a coluna publica um poema de Derlane Koeeler no original pomerano com sua tradução, ilustrativos do que foi dito.
Rubens pontes, jornalista
Capim Branco, Minas Gerais.
Pomerische wörtels
Derlane Koeler
Afstamerfondempomerische folk,
Ikbünstolstaumdatsägen.
Aingrootgeschichthäwe’sbeleewt
Unikbünhijrtaumdatfortelen.
Sai sinfonpomerlanduuwandert,
Taumnihungren.
Sai leewtemankfeelekonflikte,
Datdatsërswårtaumwijrerdrijwenwäir.
Sai sin in hamburg (hawen) insteege
Unbet vitória henkåme.
Nijgland, nijgwild,
Feelwaldunbärgetaumupfijnen.
Hüüthäwikschulden,
Wat iknibetåltkrijg.
Sai häwe soo feeldaileschaft
Dårbünikstolsoiwertaumfortelen.
De ülrerdauikdanke,
Wat ooswånenhijruprichthäwe,
Un arbërekoineupdësemland.
Raízes pomeranas
Tradução Simone Kurthdettmannhila
Descendente do povo pomerano,
Tenho orgulho de falar.
Uma grande história tiveram,
E estou aqui para contar.
Emigraram da Pomerânia,
Para fome não passar.
Viviam em meio a tantos conflitos,
Que era difícil prosperar.
Embarcaram em Hamburgo
E chegaram em Vitória.
Nova terra, novo mundo,
Muitas matas e montanhas a desbravar.
Hoje tenho uma dívida
Que não consigo pagar.
Criaram tantas coisas,
Que tenho orgulho de falar.
Agradeço aos antepassados,
Que aqui fizeram morada,
E por nesta terra poder cultivar.
Kleber Galvêas: um terreno na Barra do Jucu, VV/ES, que dorme e não sonha | 14/4