Ponto de Iniciação
Então…
Renato Fischer
O autor visto pelo chargista Janc
Tava aqui pensando no puxão de orelhas do Editor Chefão que me inquiriu com sobriedade e sisudez a respeito da falta de acentuação nos meus textículos, que encaminho para publicação.
Reclamava do trabalho que tinha pra consertar. Por isso, demorava a publicá-los e talvez pudessem sair na sexta. Não feira, mas na de lixo. Cesta! Tenderam?
Pus a culpa no meu teclado, comprado clandestinamente lá nos Estados Unidos, onde não se usa acentuar palavras. Os teclados de lá não vêm programados para tal e eu não fiz a recodificação. Ou formatação, como se diz aí na linguagem de TI.
Na verdade, a culpa mesmo está nos eruditos formatadores da língua portuguesa. A linguagem foi uma dádiva da natureza ao ser humano, com um fim específico e bem simplório: poder se comunicar. Daí se inventou as palavras, seus ligamentos, a forma de expressar ação.
Criou-se o verbo e o verbo se fez carne. Só passamos a existir, só tivemos carne, depois do verbo, ou seja, das palavras, da comunicação.
Mas os argutos arautos da sabedoria, notadamente da língua portuguesa, foram transformando a simples ferramenta comunicativa em CIÊNCIA. Coloquei em caixa alta porque aprender português é decifrar uma ciência enorme. E inexata. Como 2 + 2 que pode ser 4,5.
A criação dos acentos foi uma dessas estripulias. A princípio justificaram que era pra indicar onde está a sílaba tônica. Toda criança quando começa a aprender a falar já sabe que ao pronunciar “sílaba”, a sílaba tônica está no “si”.
Mas os preocupados linguistas dizem que tem que colocar um acento aberto em cima do pobre “i”. Não chega aquele famigerado pontinho que se tem que colocar sobre ele. Assim como a criança também sabe que no “tônica” a sílaba tônica está no “to”.
Mas também não basta. Tem que se colocar um acento em cima do pobre “o”. Desta vez, não o aberto, mas o circunflexo. Aquele chapeuzinho de bruxa.
Tudo menos ruim se se obrigasse a colocar os tais acentos em todas as sílabas tônicas de todas as palavras. Como fizeram com as proparoxítonas. Mas veio o pior. Criaram várias regras para as demais. Passamos a ter sílabas tônicas acentuadas e não acentuadas. Estava criada a torre de Babel.
Ou a “zona total”, como acabou de acrescentar o Editor Chefão do Don Oleari PN.
E pra quê acentuar palavras unissílabas? Não é uma sílaba só? Pra que indicar que ela é a tônica? Coisa de português! E se esmeraram.
Criaram várias regras pra acentuar as monossílabas. Algumas são acentuadas, outras não.
Haja tempo perdido e chip cerebral pra decorar todas. Ainda bem que não inventaram de meter um acento no cu. Cu não é acentuado, né? Ou é? Confesso que não consegui guardar todas as regras.
Aliás, sempre gostei de escrever e faço textos, textículos e texticulões compreensíveis. Também sei entender qualquer texto que leio.
Mas fiquei reprovado num teste de vestibular que minha filha fez há alguns anos para ingressar no IFES, o Instituto Federal de Educação. Que era Escola Técnica antigamente.
Cada governo que entra quer um nome pra chamar de seu. Ela pleiteava uma vaga num curso ligado à engenharia. Mas 60% da prova era português. Porque a ciência da língua é grande pra caralho. Maior que um palavrão. Ou seja, falo e escrevo essa língua há tantos anos mas não a compreendo até hoje.
Como não pretendo uma cátedra pra ensinar Português, não me preocupa a minha ignorância.
Bom que seja assim. Se isso me preocupasse, estaria perdido, pois tenho plena ciência da minha incapacidade cognitiva para tal. Ficaria até deprimido com isso. Poderia até suicidar. E levaria outro puxão de orelha do Editor Chefão por ter suicidado errado.
Até o corretor tá me mandando escrever diferente. Diria que eu deveria ter “me suicidado”. Mas peraí, poderoso Editor Chefão! Suicidar não é se matar? “Se suicidar” viraria “se matar se”.
Calma aí! Não pretendo me matar duas vezes. Diria ele: a língua culta diz que a expressão correta é “se suicidar”. Pois continuem vocês aí “se matando se” porque depois de morto eu não conseguiria me matar de novo.
No inglês não há acentuação. Daí, meu teclado americano ter me traído e me levado ao vexame de ser duramente criticado pelo Editor Chefão.
E tô aqui, sofrendo com ele de novo. Levo mais tempo corrigindo as acentuações (pra não levar outro esculacho) do que escrevendo.
Mas o inglês também tem suas esparrelas. Como nos vocábulos e suas grafias. A começar pelas vogais. O “a” se vocaliza “ei”. Na maioria das palavras. Em outras a pronuncia é “a” mesmo. O “i” é “ai”. Mas em muitas palavras se fala “i” mesmo. Durma-se com uma praga dessa!
“Ai love iu, mai inglix”…
Minha sobrinha, que mora lá, veio me dizer que tinha um carro da Toyora.
– Não conheço essa montadora. Ela escreveu pra mim: TOYORA. Eu corrigi: isso é ToyoTa.
– Não, tio, é Toyora.
Fui pro banheiro defecar.
O alemão resolveu juntar palavras, (substantivos, verbos, etc), pra designar qualquer coisa. “O burro fugiu do pasto”. Burro fujão, lá virou “burrofugiudopasto”.
Mas, recentemente, linguistas portugueses, brasileiros, angolanos, nos deram um alento. Depois de décadas discutindo o assunto, decidiram fazer uma reforma ortográfica na Língua Portuguesa.
Excluíram o trema.
Demorei a entender. Eu não sabia o que era trema. Duvido que alguém aí com menos de 100 anos, saiba. Mas que bom! Excluíram o trema. Menos um acento que a gente nunca usou e que agora não precisamos mais usar. Grande reforma ortográfica.
O problema é que nossos eruditos excluem o trema e a patuléia cria novos sinais pra bagunçar a pobre Língua. Além dos acentos, somos eivados de sinais. São vírgulas, ponto e vírgulas, sinal de interrogação, ponto final, sinal de exclamação, etc.
Ponto de Iniciação
Agora inventaram mais um. Ponto de Iniciação. O ponto de “iniciação” de frase. Trata-se do ENTÃO. Além de advérbio e conjunção, o “então” não pode faltar no início das frases.
Mas tem que ser dito em separado. Você fala “então” e, então, dá um tempinho pra começar a falar aquilo que deve ser dito. É Ponto de Iniciação.
– Governador, onde está o dinheiro do fundo perdido?
– Então… O fundo já era perdido. Continua perdido.
Professor: Então, Joãozinho, cadê o dever de casa, pronto?
Joaozinho: professor, tive que levar minha namorada pro escurinho do cinema e não deu tempo pra fazer.
Professor: Então… Tá reprovado.
– Mas só porque deixei de fazer o dever de casa?
– Então… Não, Joaozinho. Devido ao seu péssimo Português. Você nunca usa o ponto de iniciação em suas frases.
Âncora: Agora mais informações sobre este assunto com o repórter Editor Chefão.
– Então… Bom dia, âncora, bom dia a todos. Então….. O cabra furou o bucho do ricardão…
Então…Acabemos com esse papo furado.
Ponto final (Renato Fischer).
Ponto de Iniciação
Edição, Don Oleari – [email protected] –
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