Primeira grande ópera
A primeira grande ópera montada no Espírito Santo. A primeira ópera de Vivaldi montada no Brasil.
NEC = Nota do Editor Chefão, Don Oleari | Quero deixar aqui anotado o meu mais profundo agradecimento ao bailarino, coreógrafo, produtor e gestor cultural Marcelo Lages pelo privilégio de nos conceder uma crítica EXCLUSIVA. Quero agradecer também às pessoas que nos proporcionaram este privilégio de uma “tradução” para um espetáculo único, que deixou o público ansioso por outras temporadas (Don Oleari).
Por Marcelo Lages
Bailarino, coreógrafo, produtor e gestor cultural
A temporada de espetáculos culturais deste ano foi iniciada com uma grande surpresa: a montagem, inédita, da ópera “Catone in Utica”, de Antonio Vivaldi, no Palácio da Música Sônia Cabral, centro de Vitória/ES, na Cidade Alta.
O espetáculo realizado com recursos do FUNCULTURA da Secretaria de Cultura do Governo do Espírito Santo e por Sabino Produções Artísticas teve a direção cênica impecável de Tamara Lopes, regência de Sérgio Dias e Direção Artística assinada por Washington Sieleman.
O público, que esgotou os ingressos 10 dias antes da primeira récita, compareceu com entusiasmo e acompanhou os conflitos narrados pelo libreto de Pietro Metastasio, que nos fala do dramático encontro entre o Imperador Guilio Cesare e o Senador Marco Poncio Catone, na cidade de Utica, ao norte da África.
Disputas políticas, polarização extremada
Tal confronto nos revelou a face trágica dessa ópera que nos trouxe à reflexão as disputas políticas, os perigos da polarização extremada de ideias e os conflitos humanos, como amor e traição, solidão e temperança, dúvida e manipulação…
É, talvez, a primeira grande ópera séria montada no Espírito Santo e, pasmem: esta é a primeira vez que uma ópera de Vivaldi é montada no Brasil. Os motivos para isso não são poucos, por isso não me deterei em tentar entendê-los por agora.
O fato é que com tantos desafios a montagem entregou um espetáculo digno, esteticamente bonito e de grande qualidade artística.
A direção cênica merece todos os nossos reconhecimentos, pois conseguiu criar um ambiente envolvente, com marcações estratégicas, que davam ao espetáculo um ar de tensão que se manteve ao longo de toda a obra.
Tamara Lopez conseguiu, de fato, realizar um trabalho primoroso, com soluções criativas e belas, diante das limitações dos espaços culturais de nossa capital.
A concepção e realização dos espaços cênicos, com objetos que ora remetiam a um decadente palácio, ora a ruínas romanas, nas quais eram projetados elementos que reforçavam o texto, também chamaram a atenção do público, assim como os figurinos assinados por Thila Paixão.
O Visagismo esteve a cargo das mãos experientes e competentes de David Aquino, que contribuiu com o seu talento na caracterização de cada personagem.
Sobre o elenco de cantores, a montagem acertou precisamente na escolha. Os papeis foram bem escolhidos e os cantores, magistralmente ensaiados do ponto de vista cênico e musical, deram vida a personagens complexos.
O Tenor Rafael Ribeiro apresentou-nos um Catone que se dividia entre a honra, o orgulho e o temor do abandono, com uma interpretação surpreendente.
Sua linda voz e domínio de suas árias e recitativos revelaram um elemento a mais que impactou positivamente o público.
Rafael foi ao lado da veterana mezzosoprano, Lorena Espina, responsável pelo papel de Emilia – viúva rancorosa de Pompeu – o grande destaque da ópera.
Ainda sobre Lorena Espina, vale a pena recordar suas duas grandes áreas de bravura e sua experiência de palco, que fizeram de Emilia um personagem misterioso, expressivo e forte. Como Guilio Cesare, tivemos a grata surpresa de conhecer o talento do jovem contratenor Sávio Fàschét, que impressionou por sua extensão vocal.
E falando de jovens talentosos, não posso deixar de citar o carisma e a versatilidade do barítono Calebe Faria, no papel do sínico Fulvio, que se dividiu entre “promessas” a Emilia e “fidelidade” a Cesare.
Calebe é um excelente ator e cantor, com um futuro promissor. Por fim, falo de duas jovens capixabas de grande talento: Michelle Magnago (mezzosoprano) e Lorena Pires (soprano). As duas realizaram papéis fortes, cada uma a sua maneira.
Michelle era Marzia, filha de Catone, enquanto Lorena Pires era Arbace, príncipe da Namíbia e pretendente de Marzia. Trata-se de dois timbres vocais diferentes, mas duas cantoras de imenso talento e presença cênica que, formadas em nossa cidade de Vitória, começam a despertar o interesse de produções de outros estados brasileiros.
A montagem de Catone in Utica teve, ainda, o desenho de luz de Carla van den Bergen e a direção musical e regência do maestro Sérgio Dias, cujo trabalho é reconhecido pelos capixabas desde muito tempo.
A Orquestra A Trupe Barroca, sob sua direção, apresentou-se, reafirmando a qualidade do seu trabalho e, a partir da importante estreia de Catone in Utica, mais uma vez fazendo história, entre as orquestras de música antiga do Brasil.
Uma nova temporada desse surpreendente espetáculo seria muito bem vinda, principalmente para atender ao numeroso público que não teve a sorte de conseguir ingressos (Marcelo Lages).
Marcelo Lages
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