Rubens Pontes: O processo da expulsão dos jesuítas no Espírito Santo | um poema de Katia Bento | 25/3

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Rubens-Pontes, jornalista

Coluna

AQUI RUBENS PONTES:

Meus poemas de sábado

Foto de capa: Kátia Bento, natural de Castelo/ES.
Em 1556, coincidindo com a chegada de missionários católicos ao Brasil recém descoberto, foram fundadas no espaço das localidades da Serra,  Nova Almeida e Santa Cruz – todas no que é hoje o estado do Espírito Santo – marcos pioneiros de um processo que iria cobrir toda a nossa área territorial.

Foi uma época em que a cruz e a espada se impunham no processo de colonização do Brasil.

Eram então frequentes as lutas pela posse da terra, comandadas pela Igreja Católica e pelos invasores e dominadores  portugueses, com a solidariedade irmanada  de jesuítas e franciscanos, responsáveis pela catequese dos índios e assistência religiosa aos colonos e suas famílias.

Na segunda metade do Século XIX, nossa Província  era ainda constituída, em seus espaços mais largos, por terras devolutas cobertas por densas florestas devolutas.

Registro do historiador Celso Perota:

“As aldeias e os jesuítas  no ES ” (Morro do Moreno, acervo UFES) nos revela que  as Missões da Companhia de Jesus estavam organizadas em uma igreja funcionando como centro de trabalho,  atuando como “Missões da Companhia de Jesus”, com ênfase em uma relação de aldeias sob sua  direção – Muribeca, Araçaíba,  Itapaca e Carapina (todas no atual município de Serra, ao norte da capital do ES, Vitória).

 guarapary-1985-2.jpgA  técnica de catequização consistia em manter os índios em suas aldeias, onde recebiam ensinamentos da religião e continuavam produzindo bens de consumo para sua subsistência. Só iam à Missão – a Igreja sede – para receber o sacramento do batismo.

Cerca de 30 mil indígenas eram atendidos  nas Missões de Guarapary, fundada em 1585 – a imagem à esquerda anota a data; Reritiba, em 1579; Orobó , em  1580; Muribeca, em 1581; Montes Castelo, criada em 1625.

Fonte: jornal A Gazeta, 19/8/1999 – Neida Lúcia Moraes)

Cartas-Jesuiticas-I.-Cartas-Do-Brasil.-1549-1560-1.jpgEsta capitania se tem por melhor coisa do brasil, depois do Rio de Janeiro

(Carta de Manoel da Nóbrega, 1560)

Monsenhor Eurípedes Pedrinha foi poeta, ensaísta, orador sacro. De uma família tradicional de desbravadores, um dos maiores intelectuais daqueles tempos,  nasceu às margens do Rio Doce, mostrando-se um apaixonado pelo Espírito Santo. Escreveu ele:

“A viçosa mata e alegres campos de Moab (*) vestiam flores muito gentis e  formosas; a pura atmosfera preenche  e suavíssima fragrância que em profusão derramavam aquelas pétalas e ramos viventes mostravam-se benéficas e atraentes.

A Igreja Católica solenizava com aparatosa pompa os maiores  dias do cristianismo, nos quais o Céu mandava aos apóstolos ensinamentos para regarem e defenderem  a já nascida e frutuosa  moralidade da vida…”

(*) Moab – na linguagem indígena calçados, alusão ao calçado do  homem branco.

jesuitas-expulsao.jpgA expulsão dos jesuítas 

Tudo correndo no ritmo natural de ocupação gradual da terra então descoberta, atuando em busca de objetivos nem sempre comuns.

A Corte Portuguesa policiando suas riquezas, a poderosa Igreja Católica plantando dogmas e os imigrantes  europeus buscando espaços para sua atividade.

Até a Carta de Lei do rei D. José I, de Portugal, ordenando que se fizesse cumprir as intenções do papa Clemente XIV de suprimir e extinguir de todos os seus reinos  domínios a Companhia de Jesus, assim como tudo o mais relacionado a essa ordem religiosa.

Em consequência, foi expulsa  do Espírito  Santo  colonial a Companhia de Jesus.

O ano era de 1773 e a bula papal  “Dominus ac Re Redemptor noster”.

Encerravam-se ali as atividades de uma  ordem religiosa fundada por Inácio de Loyola no ano de 1540 e que trouxe ao nosso Estado, na comitiva de Tomé de Souza, em 1549, os chamados “Soldados de Cristo”.

Aos jesuítas competia, além da catequese, a transmissão da cultura portuguesa por meio doensino, por eles monopolizados até meados do século XVIII. Fundaram em todo o território ocupado  missões religiosas e aldeamentos indígenas de caráter civilizador e evangelizador.

Difundiram a língua dos Tupinambás (nheengatu), muito falada no Brasil daquela época.

O poder  e a influência dos jesuítas foram duramente contestados durante a administração portuguesa do Marquês de Pombal,  gerando um conflito de interesses que culminou  com a extinção sumária da Ordem.

Para os capixabas,  nunca desaparecerão as marcas deixadas pelos jesuítas, da cidade homenageando o nome de Anchieta à sede do Governo, bem a propósito, no coração de Vitória.

Com o poema publicado, o Portal Don Oleari rende  suas melhores homenagens aos jesuítas e aos evangelizadores de todos os credos,  portadores da palavra de Deus.

Rubens pontes

Capim Branco, MG 

A autora do poema escolhido, Kátia Bento, é natural de Castelo/ES, terra de origem dos Puris, de quem é descendente.

Era uma vez esta foto colada na memória

katia bento 

índia puri pé descalço

torrão de chão no seu passo,

a noite fez seu cabelo

breu liso que esvoaça.

puri em paz no instante

perfeitamente intocado –

no veio, vau incessante

do tempo em gota passando

me dá, dá só um pedaço

desse momento encantado

antes que a água doce

caia em sanguínea emboscada.

 

te quero tocar os dedos

dar-me de abraços e beijos

entre teu corpo de fruta

mergulhemos

nesse nosso rio manso

nesse pedaço de instante

puri – de paz e poema.

 

alguém que teria

sua alma tapuia

(então me segreda:

-vou ser sua amuia

– herança de avó e neta-

índia puri e poeta.

grito e choro e corro:

amuia!

-soa meu grito tapuia.

e tupanci me carrega

da cena aberta na mata.

por mais que o grito se escorra

a mão de nossa senhora

bem segura à minha mão

me conta que “ela não ouve

nem me vê”. mas inda trago

no meu o seu coração

ferida de toda ira

mão braba do capitão.

tocada de todo açoite

chicote do capitão.

https://twitter.com/donoleari

Rodrigo Melo Rego | Certinhas do Oleari: “Há  mais de 50 anos, a indecência de Natália Correia libertou-nos” | Cosmópula | 22/3

 

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Don Oleari - Editor Chefão

Radialista, Jornalista, Publicitário.
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