Rubens Pontes | Os rios que passam pela vida do Espírito Santo | Poemas de Fernando Pessoa e Viviane Mosé | 12/8

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Coluna AQUI RUBENS PONTES

MEUS POEMAS DE SÁBADO

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Rubens Pontes,
jornalista

 

Durante uma das reuniões de pauta do Don Oleari, Portal de Notícias – www.donoleari.com.br – o editor Chefão Don Oleari, ele próprio como jornalista familiarizado com o rio Doce, dramático ou sereno, sugeriu eventual abordagem de temas ligados a experiências vividas ou vivenciadas tendo rios como cenário.

O assunto tem uma profundidade com a qual nem sonha nossa vã filosofia…

A primeira dama do Portal, Lena Mara, sempre serenamente atenta, remontando passagens bíblicas, citou o salmista que disse existir na cidade de Deus “um rio que flui do trono do Cordeiro e as águas que jorram do trono santificam as moradas do Altíssimo porque a presença de Deus se move no meio das águas, trazendo vida.”

O relato do profeta Ezequiel diz que as águas que fluem do rio, um rio caudaloso de águas purificadoras, iriam transformar a morte em vida.

É o reino pregado por Deus ao criar o Universo.

O rio de Deus

“Na cidade do nosso Deus, existe um rio que flui do trono do Cordeiro e as águas que jorram do trono enchem de alegria a cidade de Deus santificando as moradas do Altíssimo, porque a presença de Deus move-se no meio das águas trazendo vida”.

Assim como as águas do rio que regavam o Jardim do Éden, representando a vida de Deus fluindo para sua criação num fluxo constante das bênçãos, pontuando o mal, o oposto ao bem que a humanidade nunca deixou de exercer, o Mar Morto recebe esse nome porque suas águas são salgadas, e chegam a uma temperatura de até 50º.

Suas águas são grossas, pesadas, possuem 26% de sal enquanto as águas do Oceano possuem 4%. Devido a essa densidade, peixes não existem, não há vegetais em suas margens, não há nenhum tipo de vida.

A nossa História confirma:  desbravadores do então áspero território do Espírito Santo viveram esse exemplo de afirmação, usando cursos de rios para vencer distancias e conquistar espaços geográficos, plantando neles núcleos de civilização e riqueza. E com os sacerdotes de Anchieta levando e pregando a palavra da Igreja.

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rio sta maria

Os rios eram as estradas e o Criador foi generoso com nosso Estado do ES, dotando-o de doze bacias hidrográficas, sete delas dentro das  fronteiras estaduais:

– Piraquê-Açu, Santa Maria, Guarapari, Reis Magos, Jucu, Benevente e Rio Novo.

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Outros cinco são domínios da União, o principal deles o Rio Doce, percorrendo 897 quilômetros desde sua nascente em Ressaquinha/MG, até Linhares, no Espírito Santo, no seu encontro com o mar.

Com ele os rios Itapemirim, São Mateus, Itabapoana e Itaúnas. Todos esses rios estão nos nossos limites acolhendo os desbravadores das terras virgens, possibilitando a geração de riquezas como o açúcar – o terceiro maior produtor das terras então desbravadas, a madeira e o café.

UM POUCO DE HISTÓRIA

Foi no dia 16 de julho de 1698 que os bandeirantes paulistas descobriram o ribeirão do Carmo, em Minas Gerais, e do seu leito encontraram uma pepita de ouro escuro, puríssima. Foi o início de uma febril era de garimpo, com a retirada entre os anos de 1701 e 1800 de mais de 840 mil quilos de ouro, sem auxílio mecânico.

Reservas naturais preservam Mata Atlântica

Durante corrida do ouro em Minas Gerais, o Espírito Santo esteve cercado pela Mata Atlântica para inibir contrabando, escreveu Isabela Arruda, em “A Gazeta”.

Vasco Fernandes Coutinho esclarece mais, dizendo que terras da sua Capitania não desfrutaram dos recursos empregados nas minas, nem sequer da riqueza que eclodiu à época. Serviram como escudo formado de Mata Atlântica, hoje chamado pelos historiadores do período de “barreira verde”, que servia para separar o mar das minas, assim começou a ser construída a história do Espírito Santo, de modo a escondê-lo do restante da colônia portuguesa.

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Segundo conta o historiador Adilson Vilaça, os percalços tiveram início com o mau relacionamento com os indígenas locais.

“Em uma viagem que fez a Portugal, Vasco Fernandes Coutinho, ao voltar encontrou o local  semi-destruído pela reação  violenta das tribos  em revide aos homens que a administravam, aprisionando e torturando  índios para revelar onde estavam as riquezas cobiçadas. Os índios reagiram e revidaram à violência e os europeus se refugiaram na região de Santo Antônio, bairro de Vitória”.

Os ânimos belicosos foram contornados pelo donatário, se preparando para a nova fase que  viria.

“Com a chegada do período aurífero em Minas Gerais, os bandeirantes de São Paulo passaram por aqui para chegar às minas. E o Espírito Santo continuava separado por mata atlântica, sem comunicação quase nenhuma com outras partes do Brasil.

No período mágico de extração de ouro em grande quantidade, o mineral deveria ser levado para Portugal, embarcado desde um porto brasileiro. Como o Rio de Janeiro ficava muito visado, pensou-se em Vitória. Para isso, foram feitas sete fortificações, entre elas o forte São João, único remanescente delas.

De qualquer forma, os portugueses não fizeram a estrada que ligaria Vitória ao sertão das Minas, e foi tomada outra opção, o Porto de Paraty.

“Por aqui, ficou estranho: com fortificações, mas sem caminho para as minas”, acrescentou Vilaça.

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Forte São João,

em Vitória

Para o historiador e comentarista Fernando Achiamé, é possível dizer que as reiteradas proibições para se penetrar no interior da capitania existiam de acordo com o ditado da época:

“Onde há muitos caminhos, há muitos descaminhos (contrabandos)”.

“O ouro e os diamantes deviam ser escoados para Portugal pela Estrada Real , sob severa vigilância militar, que de início terminava no porto de Paraty (Caminho Velho) e depois foi direcionada para a baía da Guanabara no Rio (Caminho Novo). Então a barreira natural aqui consistia de matas densas, com índios inamistosos e animais ferozes. Mas era uma barreira de proteção”.

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fernando achiamé

A cidade de Vitória foi atacada algumas vezes, porque alguns imaginavam que o ouro saía daqui, Não havia estrada para as minas e o Espírito Santo se tornou esse escudo verde, que separava o mar das minas.

Já no início do século XIX houve um movimento de incentivo às ligações por rios e estradas entre o Espírito Santo e Minas Gerais.

Na época em que o Espírito Santo funcionava como barreira verde, ganhou intensidade a economia das regiões mais abastadas, como o Sul do Estado, em que havia uma densidade populacional sustentada pela produção de açúcar, aguardente, farinha de mandioca, entre outros.

Sob uma perspectiva otimista, Fernando Achiamé afirma que a barreira verde, com medidas proibitivas de se ocupar o interior da capitania, teve impacto no crescimento local, ainda que restrito ao litoral, como aos territórios de São Mateus, Santa Cruz, Reis Magos (depois Nova Almeida), Serra, Vitória, Vila Velha, Guarapari, Reritiba, depois Benevente, atual Anchieta e Itapemirim.

“Mas, por outro lado, as medidas de defesa em Vitória contribuíram para garantir que a capitania do Espírito Santo sobrevivesse como ente político distinto. Na extensa costa entre as cidades de Salvador e Rio de Janeiro, as duas capitais da Colônia brasileira, somente a capitania do Espírito Santo sobreviveu com identidade política própria – as antigas capitanias de Ilhéus e Porto Seguro foram incorporadas pela Bahia, e a extinta capitania de São Tomé (Campos dos Goytacazes) foi assimilada pelo Rio de Janeiro”, pontuou o Achiamé.

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 Viviane_Mose-ii-1.jpg 12 de agosto de 2023 7 KBA Coluna finaliza estas anotações, uma busca para cumprir uma “insinuação” do Editor Chefão, com a consciência de ter sido muito superficial o conteúdo registrado (***).

Salvam o espaço a publicação de dois poemas assinados por Fernando Pessoa e Viviane Mosé, dois astros da literatura portuguesa e brasileira.

Rubens Pontes, jornalista

Capim Branco, MG

(***) NEC = Nota do Editor Chefão: não apoiado. O conteúdo tem nada de “superficial”, ao contrário é amplo nas pesquisas e conduz o leitor a uma boa caminhada pela história do Espírito Santo (Don Oleari).

ENTRE O SONO E O SONHO

Fernando Pessoa

Entre mim e o que em mim

É o quem eu me suponho

Corre um rio sem fim.

Passou por outras margens,

Diversas mais além,

Naquelas viagens

Que todo rio tem.

Chegou onde hoje habito

A casa que hoje sou.

Passa, se eu me medito;

Se desperto, já passou.

E quem me sinto e morre

No que me liga a mim

Dorme onde o rio corre –

Esse rio sem fim.

******************

“Rios”

Viviane Mosé

Rios, quando ainda são rios,

Conservam vegetação nas margens.

Córregos são águas geralmente claras

Que correm rasas entre as pedras.

 

Algumas vezes árvores chegam a cobrir um rio por inteiro:

Suas copas vão tecendo um véu verde sobre as águas

(em geral muito limpas) que correm.

 

As margens de um rio são plantas e terra molhada.

Terra e água em convivência pacífica.

Que não é lama, é terra e água,

Em sua diferença.

O leito se sabe leito daquele fluxo líquido inserido no chão.

Eu poderia chorar de coisas assim:

Corre um rio de minha boca corre um rio de minhas mãos.

Dos meus olhos corre um rio.

Na verdade sofro de excessos, que me dão certo vocabulário

Como derramar, escorrer, atravessar.

Tenho a impressão de que tudo vaza em sobras.

Tenho dificuldade em caber.

Pra caber mais derramo por nada derramo sem motivo.

Vou acalmar meu excesso pensei

Ministrando doses diárias de barcos ancorados ao sol,

Rodeados por pequenos pássaros em busca de restos de peixe.

Águas se lançando sobre as pedras e um vento que parece vivo,

Como se tivesse a intenção de às vezes fazer agrados

Em minha pele.

Meu rosto tem muita simpatia por ventos,

Reconhece certos humores próprios a vento.

Gosto de coisas que se movem.

Por isso aprecio rios e não sou tanto assim apegada a mares.

E árvores.

Se bem que tenho enorme ternura por bois

Fincados no pasto como palavras no papel.

Palavras são estacas fincadas ao chão.

Pedras onde piso nessa imensa correnteza que atravesso.

 

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Edição, Don Oleari – [email protected]

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Don Oleari - Editor Chefão

Radialista, Jornalista, Publicitário.
Don Oleari Corporeitcham