Alma poluída
Coluna AQUI PRAIA DO CANTO | Vitória/ES
Don Oleari
NEC = Nota do Editor Chefão, Don Oleari |
Recebi o artigo do presidente da Associação de Moradores da Praia do Canto, Damian Sadovisky, como uma sugestão: “que tal publicar?” Fui à caça do contato com o Desembargador Pedro Valls Feu Rosa.
Achei seu endereço infernético no saiti do Tribunal de Justiça, já tarde da noite. Decidi mandar-lhe um bilhetimeil na mesma hora. Lembrei-me duma homenagem que ele me prestara há 800 anos por alguma campanha que comandei num programa da Rádio Espírito Santo.
E que ele tinha ido pessoalmente à emissora para me entregar o símbolo da campanha – a escultura dum golfinho.
Pedi autorização para reproduzir. Dr. Pedro, também tarde da noite seguinte me respondeu gentilmente, enviando-me o texto.
Como temos acompanhado de perto o andamento da CPI da Poluição – mais conhecida como CPI do Pó Preto – em parceria com a Associação de Moradores da Praia do Canto e as associações dos outros 8 bairros da Região 5, o artigo do Desembargador é mais que oportuno.
Para completar, recebi um texto do nosso parceiro pintor Kleber Galveas falando sobre o artigo de Feu Rosa. O texto de Galveasw está no final do artigo (Don Oleari).
Pensando, pensando, pensando!
ARTIGO |
Pedro Valls Feu Rosa
Dia desses tive a oportunidade de ler um emocionante relato sobre o sofrimento das crianças norte-americanas que vivem na região de Oakland, vítimas inocentes da poluição atmosférica que por lá reina.
A imagem é utilizada como marca dos textos de Pedro Valls Feu Rosa.
A cada ano são dezenas de milhares de vítimas dando entrada nos serviços de emergência dos hospitais locais, por conta de problemas pulmonares.
Muitas delas não sairão de lá vivas – em um único ano 157 crianças com menos de 15 anos de idade não resistiram.
Constatou-se que existem locais naquela região nos quais o índice de internações chega a inacreditáveis 126,4 por grupo de 10.000 crianças.
O problema é mesmo sério.
Pesquisadores fizeram um levantamento na Lafayette Elementary School, no distrito escolar de Oakland, e constataram, chocados, que 23% dos estudantes apresentaram problemas pulmonares graves.
Este drama não atinge apenas as crianças – carrega, consigo, as famílias destas. Que o diga a mãe de Jonathan, uma infeliz criança que passa praticamente cinco dias de cada mês sob tratamento, longe das ruas.
Transcrevo o seu desabafo:
“É sempre aquela batalha de trabalhar e estar ao lado do meu filho. Claro que ele é mais importante, mas
nós temos que pagar nossas contas”.
Por falar em contas, e daquelas salgadas, a dos danos materiais vai parar diretamente no bolso da população como um todo. Assim, gasta-se anualmente uns US$ 56 bilhões só no tratamento dessas doenças.
Ainda sobre contas, em 2001 a revista Science publicou um devastador estudo sobre os índices de poluição, internações e mortes em Nova York, Cidade do México, Santiago e São Paulo.
Numa projeção para 2020 concluiu-se que se essas cidades baixassem em apenas 10% suas emissões de gases poluentes haveria 800 mil crises de asma a menos (só em São Paulo), e seria possível evitar 64 mil mortes e 65 mil casos de bronquite crônica.
Seriam evitadas ainda 60 mil internações por causas respiratórias, 300 mil consultas médicas infantis e mais de 700 mil atendimentos de emergência por causas respiratórias.
A mão é do presidente da Associação dos Moradores da Praia do Canto, Daman Sadovsky. O pó preto é da sala para a varanda, com fechamento de vidro, depois de limpa alguns dias.
Em termos financeiros os valores economizados seriam de US$ 21 bilhões em custos médicos e US$ 165 bilhões em custos totais decorrentes das mortes prematuras e perda de produtividade por doenças.
Pois é. Fiquei a recordar uma tese de doutorado que abordou os casos de asma e doenças respiratórias decorrentes da poluição de Vitória.
Pus-me a meditar sobre um misterioso “pó preto” que nos humilha e envergonha – e que ainda não se sabe de onde vem, apesar de tantos anos de investigações.
As crianças de Oakland e as daqui, ao contrário do que se poderia supor, não são vítimas da industrialização. São vítimas, isto sim, da insensibilidade de alguns poucos que se recusam, terminantemente, a compatibilizar suas indústrias com o notável avanço tecnológico já conquistado pela humanidade.
A estes dedico, em nome de cada criança que arfa e sofre pelos hospitais de Oakland, de Vitória e de tantos outros lugares, as palavras de Pascal:
“de que vale ao homem conquistar o mundo, se perde a alma?”
Pintor Kleber Galveas comenta o artigo de Feu Rosa
Fiquei feliz e cheio de expectativa ao ler o artigo “ALMA POLUIDA”, do Desembargador Pedro Valls Feu Rosa, neste domingo, 23/06/2024, no jornal A Tribuna.
O Desembargador fala da poluição que, há meio século, enfrentamos no Espírito Santo, especialmente na Grande Vitória. Comenta pesquisas feitas em cidades dos Estados Unidos, sobre os danos à saúde dos seus habitantes e o dinheiro gasto em consequência do descuido das empresas poluidoras e descaso do poder público na fiscalização.
Tenho uma gravação onde junto com o Mestre Homero Massena discutimos esse problema em 1974. Frequentei, com colegas universitários, as palestras do filósofo francês Michel Bergman, no Teatro Carlos Gomes em 1972. Ele havia acompanhado as transformações em Dunquerque, quando implantaram o parque siderúrgico. Tentou nos prevenir. Pregou no deserto.
Há 28 anos desenvolvo uma provocação artística abordando a poluição atmosférica que, infelizmente, não desperta nenhum interesse. Minha expectativa é que as palavras sensatas, equilibradas e bem fundamentadas do Desembargador encontrem eco entre aqueles que precisam lavar a alma poluída.
Kleber Galvêas, pintor (27) 3244 7115 ´
Kleber Galvêas. Rua Antenor Pinto Carneiro, 66. Barra do Jucu, Vila Velha/ES. CEP 29 125 120 – CI – 150 117 ES. CPF. 201 537 247
Alma poluída
Edição, Don Oleari – [email protected] –
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