da Europa ao Espírito Santo
COLUNA AQUI RUBENS PONTES
MEUS POEMAS DE SÁBADO
Da Europa ao Espírito Santo – Don Oleari Portal de Notícias, por esta Coluna, já abordou a presença de cantadores nordestinos que fizeram do Cordel um instrumento de comunicação com suas comunidades (Coluna publicada em 24.7.2021).
O tema é fascinante e complementos sobre essa criação poética levam à sua história que não nasceu no Nordeste brasileiro, onde se popularizou, e chegou de lá, com escalas e com ênfase, ao Espírito Santo.
O gênero da poesia cantada em Cordel se reporta à Idade Média e não há informações de quando foi introduzida no Brasil pelos portugueses e espanhóis, primeiro na Bahia e depois no restante do Nordeste, onde alcançou foros de altíssima popularidade.
Da Europa ao Espírito Santo
Já na Idade Média, compositores de uma escola literária compunham cantigas para serem entoadas em festas da nobreza ou celebrações populares, tematizando o amor não correspondido, a ausência do amado chamado para a guerra, as tristezas diante dos desafios medievais.
Eram os cordéis da época, que vieram da Europa ao Espírito Santo.
Levas de portugueses que vieram para o Brasil com as naves do descobrimento buscaram inicialmente fixar-se no Nordeste – durante os três primeiros séculos o mais importante polo econômico do País. Trouxeram com eles a estética literária do Cordel.
Os versos rimados, quase sempre improvisados, para serem cantados, fizeram sucesso e desde então começaram a ser adaptados e se abrasileiraram.
Como narrou o historiador paulista Marcel Verrumo, muitos dos cantadores daquela é poca, ao irem ao mercado para entoar seus versos usavam cordões para segurar próximo do corpo as folhas onde estavam impressos os textos.
No final do Século XIX, as pequenas folhas soltas amarradas em cordões se transformaram no cordel vendido em feiras e mercados como livretos, guardado o formato 12×18 cm, com 8, 16 ou 32 páginas.
As xilogravuras vieram logo depois e estão presentes nas edições do nosso tempo.
Pai do cordel no Brasil
Chamado por Carlos Drummond de Andrade de “O Rei do Sertão”, Leandro Gomes de Barros nasceu em Pombal, interior da Paraíba. Fugiu da casa dos pais aos 11 anos, viveu de favores, e aos 24 anos de idade começou a improvisar poemas – centenas deles – narrando as aventuras dos cangaceiros, de santos da Igreja, registrando as lendas que percorriam os rincões brasileiros.
Um dos seus cordéis serviu de mote para o livro “Auto da Compadecida”, de Ariano Suassuna.
Kátia Bobbio
O Espírito Santo foi uma escala no processo de criação dos cordéis, quando abrigou nordestinos que se deslocavam para São Paulo em busca de melhor mercado de trabalho e aqui se detiveram.
O nome de Leandro Gomes de Barros se associa a pelo menos outros 15 que se destacaram produzindo literatura de cordel no Estado do Espírito Santo.
O mais conhecido deles é Kátia Bobbio (Katia Maria Bobbio Lima, já motivo de abordagem da Coluna do Don Oleari Portal de Notícias em 10/7/2021).
da Europa ao Espírito Santo
Escritora de cordel, pintora, poeta, declamadora, bacharel em Direito, Kátia Bobbio nasceu em Conceição da Barra, Norte do ES, em 1960.
Escreveu cerca de 150 títulos de folhetos, muitos deles premiados com medalhas e menções honrosas.
Ocupando cadeiras em 7 academias de letras, entre elas a Academia Feminina Espírito-Santense de Letras, Kátia Bobbio também acadêmica em instituições em Minas Gerais e na Bahia, foi premiada em Portugal, Suíça, quatro vezes na França – uma delas nas comemorações do Dia Mundial da Literatura de Cordel sobre a Torre Eiffel.
Esta coluna manifesta reverência aos poetas e cantadores de Cordel que não apenas assimilaram as rústicas cantorias herdadas dos europeus imigrantes – da Europa ao Espírito Santo- e, mais do que isso, passaram a produzir obras de arte poética popular dando aos cordéis brasileiros dimensão de peças de admirável literatura.
O sonoplasta da Rádio Clube da Boa Música, empresa do grupo Don Oleari Portal de Notícias, passando pela redação nos surpreendeu ouvindo nossa conversa e soltando como quem não quer nada:
– Vocês sabem que Gilberto Gil é também autor de Cordel?
Obviamente surpresos, fomos conferir. E confirmamos.
Para não padecer nenhuma dúvida ao eventual leitor, fomos levados a encerrar a Coluna com o Cordel “Minha Princesa” do poeta, compositor e cantor Gilberto Gil (com Roberta Sá), Membro da Academia Brasileira de Letras (Rubens Pontes).
Rubens Pontes, jornalista
Capim Branco, MG
Créditos
Academia Espírito-santense de Letras, Secretaria Municipal de Cultura. Secriartecidadania.wordpress.com
Minha Princesa – “Cordel Encantado”
Gilberto Gil (com Roberta Sá)
Quanta beleza coube a ti
Minha princesa
Quanta tristeza coube a mim
Na profundeza
Que o amor cavou
Que o amor furou
Fundo no chão
No coração do meu sertão
No meu torrão natal
Meu berço natural
Meu ponto cardeal
Meu açucar, meu sal
Oh, meu guerreiro
O teu braseiro me queimou
Oh, meu guerreiro
Meu travesseiro é teu amor
Meu cangaceiro
Que me pegou
Me carregou
Que me plantou no seu quintal
Me devolveu
Minha casa real
Minh’alma original
Meu vaso de cristal
E o meu ponto final
Nossos destinos
Desde meninos dão-se as mãos
Nossos destinos
Já pequeninos eram irmãos
E os desatinos
Também tivemos que vivê-los
Bem juntinhos,
E os caminhos
Nos trouxeram para este lugar
Aqui vamos ficar
Amar, viver, lutar
Até tudo acabar
da Europa ao Espírito Santo
Edição, Don Oleari – [email protected] –
https://www.facebook.com/oswaldo.oleariouoleare
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