Idoso
Reproduzida com autorização do autor, ao qual Don Oleari Portal de notícias agradece o privilégio
CRÔNICA |
PAULO BONATES
Caríssimo leitor, pode procurar se quiser, mas ninguém descreve o poderoso Trump como idoso. Trump, isso, Trump aquilo, mas não idoso.
Se você por acaso for presidente dos Estados Unidos sua identidade não é transformada em genérico. Mas se for um pedestre e sofrer um acidente é logo deslocado para a insólita categoria: “Depois de invadir a calçada, caminhão atropela dois idosos”.
Ou então: “Idoso desapareceu na enchente do rio”.
Uma vez classificado na categoria de idoso, ninguém fala mais com você diretamente. A malvada identidade, mais do que genérica, apodera-se da sua existência. Você deixa de ter uma referência que construiu durante décadas e passa a ser tratado na terceira pessoa do singular:
“É seu avô? Como é o nome dele?”. E assim por diante.
Essas gentilezas têm o único objetivo de acentuar a velhice se houver o mínimo indício da referida praga mortal:
“Seu tio ainda caminha sozinho? Cuidado”. E põe medo, como se os demais não estivessem também submetidos a esse temor pelas ruas da cidade.
Minha senhora, fiel companheira dessas mal traçadas quinzenais, enfim, qualquer sinal de louvável sobrevivência neste mundo cruel, tal pessoa é jogada fora do baralho.
Se você conseguiu alcançar, graças a seus méritos, a tal certa idade, não conte pra ninguém se quiser ser respeitado. Existem grupos – às vezes incluindo até queridos familiares – que mergulham de cabeça para retirar tudo de você, o que muitas vezes inclui o bolso, sob o argumento de que o senhor ou a senhora morreu e esqueceu de deitar.
Felizmente, há na medicina profissionais ultracompetentes que se dedicam a conhecer o verdadeiro passar de anos e não o deixar de viver. Mas ainda é um risco a si mesmo permanecer com o direito que tem os vivos. É criado automaticamente um mundo que se sobrepõe a tudo.
Então.
A solidão é uma praga venenosa em qualquer idade. É justamente para esta situação que a maioria desses autênticos heróis são empurrados à força pelas circunstâncias e com a sua benevolente aquiescência, por exemplo, fingindo aceitar todas as imposições realizadas pelas pessoas amadas durante sua vida inteira.
Outro dia li um texto de Ruy Castro sobre o assunto: “Melhor idade é a P.Q.P”.
As dificuldades sexuais brindam todas as idades, mas basta ter percorrido uns aninhos que são consideradas inevitáveis.Felizmente paira no mundo científico internacional luzes sobre as impotências humanas independentemente da idade.
O austríaco Eric Kandel, detentor do Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina em 2000, aborda a vitória sobre os anos vividos com um olhar realista e benéfico, enfatizando que esse tempo, que varia de pessoa para pessoa, não significa perda irreversível de capacidades cognitivas. Pelo contrário, destaca a plasticidade cerebral como uma oportunidade de aprendizado e adaptação, principalmente na idade avançada.
Ele prova que embora algumas habilidades como a memória de curto prazo possam declinar um pouco, outras, como o conhecimento acumulado e a criatividade, tendem a se manter e melhorar. Além disso, encoraja a adoção de hábitos saudáveis, como exercícios físicos, atividades cognitivamente desafiadoras, socialização e alimentação equilibrada, para promover o bem-estar durante essa fase da vida.
Esse tempo é uma chance, geralmente às vezes maldosamente negada, de se reinventar e explorar novas possibilidades, ao invés de apenas focar nas limitações. E com isso, dificultar a alegria e o bem-estar da pessoa.
Dorian Gray, meu cão vira-lata, com seus 82 anos, já foi para a academia.
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