José Lins do Rego
COLUNA RUBENS PONTES |
MEUS POEMAS DE SÁBADO
Ninguém quebrou o pesado silêncio na redação do Don Oleari Portal de Notícias, depois do apito final do juiz na noite da última terça-feira.
Bisonhamente, o Brasil fora humilhado em campo pela tecnicamente frágil, mas determinada seleção uruguaia.
Vale, até por isso, lembrar a figura ímpar de José Lins do Rego, escritor brasileiro apaixonado pelo futebol, que, ao lado de Graciliano Ramos, Érico Veríssimo, Rachel de Queiroz e Jorge Amado, ganhou destaque como um dos romancistas regionalistas mais prestigiosos da literatura nacional.
Segundo Otto Maria Carpeaux, José Lins foi “o último contador de histórias”.
O autor desta Coluna, leitor dos livros de José Lins do Rego desde a juventude, buscando improvável justificativa para a derrota da seleção brasileira por 2 X 0, lembra a passagem do romancista pelo jornalismo esportivo.
Ele escreveu uma crônica sobre a Copa do Mundo de 1950 no Jornal dos Esportes, às vésperas da última partida, surpreendendo os eufóricos torcedores daquela época, mas que se confirmaria logo depois:
“Os nossos grandes adversários, na disputa desta Copa do Mundo, teriam que ser mesmo os uruguaios. O peito dos homens da “Celeste” é o peito dos combatentes valiosos. E além de peito têm classe bastante para serem, como são, campeões do mundo” (*).
(*) Seleção uruguaia foi a campeã da Copa do Mundo de 1930.
Essa previsão seria confirmada naquela última partida do Campeonato Mundial de 1950, com o gol de Ghigia faltando apenas 11 minutos para terminar o jogo final e a seleção uruguaia se sagrar campeã do mundial.
Foi um “maracanaço” com a amarga frustação dos até então eufóricos torcedores brasileiros.
O Editor Chefão, Don Oleari, a título de subsídio, me passou a foto da homenagem prestada aos 110 anos de José Lins do Rego pela Academia Brasileira de Letras em abril de 2011 com a citação do presidente Marcos Vilaça:
“O Zé Lins deixou uma obra que marcou definitivamente a literatura brasileira, inscrevendo-se entre os clássicos do ciclo nordestino. Ele foi mesmo um Acadêmico de duas paixões: literatura e futebol. Deixou um livro de crônicas totalmente dedicado ao Flamengo”, disse Vilaça.
Amor ao futebol
Lara Brito, jornalista em João Pessoa, capital da Paraíba, já definira a vocação de José Lins do Rego fora da literatura de ficção quando escreveu:
– Diferente de outros escritores nordestinos, José Lins do Rêgo tinha uma paixão especial por futebol. E dedicou boa parte de sua vida, no Rio de Janeiro, escrevendo matérias no jornalismo esportivo.
Torcedor fanático do Flamengo, seu envolvimento na área do futebol começou com sua ida para o Rio de Janeiro, em 1935. Tornou-se sócio do clube, sendo depois um dos seus dirigentes, e chefiou a delegação do Flamengo em sua primeira excursão pela Europa.
Antes mesmo do lendário Nelson Rodrigues ter presença na imprensa carioca, assinou a coluna “Esporte e Vida” do Jornal dos Esportes, escrevendo mais de 1.500 crônicas, entre 1945 e 1957.
O Flamengo
Autor do livro ”Flamengo é puro amor”, respondeu a quem indagou por que essa sua íntima ligação sentimental com o Clube:
– “Muita gente me pergunta por que sou Flamengo.
A muita gente tenho dito que sou Flamengo como sou romancista, pela força dos meus bons instintos”.
O escritor
José Lins do Rego nasceu e foi criado em engenhos, propriedade do seu avô, lendário senhor de oito deles na várzea do Rio Paraíba.
Iniciou seus estudos no internato no Colégio Itabaiana e no Colégio Diocesano Pio X na cidade de Paraíba, atual João Pessoa.
Formou-se em Direito em 1923. Dois anos depois casou-se com sua prima Philomena (Naná) Massa, filha do senador Antônio Massa.
Ingressou no Ministério Público como promotor em Manhuaçu, na Zona da Mata de Minas Gerais.
Menos de um ano depois deixou o cargo e voltou para seu Estado.
Foi quando escreveu “Menino de Engenho”, editado em 1932 (Essa história motivou a criação do poema publicado ao pé da Coluna).
No Nordeste, estreitou seu relacionamento com um grupo de elite de escritores, convivendo com Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, Jorge Lima, Aurelio Buarque de Holanda.
Escreveu os romances “Doidinho” e “Bangue”, um volume de memórias, livros de viagem, conferências e crônicas.
Em 1935, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde se destacou também como jornalista e dirigente de entidades clubísticas, como registrou a Coluna na sua abertura.
Várias de suas obras foram adaptadas para o cinema e a maioria delas traduzida na Alemanha, França, Espanha e Inglaterra. “Menino de Engenho”, roteiro e direção de Walter Lima Jr. e produção de Glauber Rocha.
José Lins do Rego é patrono de cadeira na Academia Paraibana de Letras e membro eleito da Academia Brasileira de Letras – ABL.
Faleceu no Rio de Janeiro aos 56 anos de idade, no dia 12 de dezembro de 1957.
Confirmamos, ao fechar a Coluna, que a admiração do Don Oleari Portal de Notícias e do Colunista pela vida e obra de José Lins do Rego não é (apenas) por razões motivadas pela identidade na visão do futebol como clube, esporte e diversão, mas com a mesma emoção a que nos leva a leitura de sua obra.
“Menino de Engenho”, poema de José Costa, seu co-estaduano, é também nossa reverência a todos os Nordestinos que deixaram sua terra para trilhar novas rotas de desenvolvimento físico e cultural em outros Estados brasileiros.
Por último, registro que ontem, dia 20 de outubro, foi o Dia do Poeta (Rubens Pontes).
Rubens Pontes, jornalista
Capim Branco, MG
Menino de engenho
(Poema/homenagem a José Lins do Rego)
José Costa
A infância melhor
Do mundo é a que tenho,
Sou menino feliz,
Sou menino de engenho.
O Engenho Corredor
É meu palco de amor,
Pois na bagaceira
É que tem brincadeira,
Com o Moleque Ricardo
É que aposto carreira.
E é na Casa Grande
Que tem um pomar,
Que têm pés de banana,
Têm pés de cajá,
Têm pés de pitomba
E tem Zefa Cajá!…
A infância melhor
Do mundo é a que tenho,
Sou menino feliz,
Sou menino de engenho.
Tem trem apitando,
Chegando a Pilar.
Capitão Vitorino
Querendo brigar,
Tem cheia do rio
Com tudo a arrastar,
Meu avô socorrendo
O que dá pra salvar.
Tem noite estrelada,
Tem noite medonha,
Têm história contada
Pela Velha Tontônia!
E tem cangaceiros
Por todo o terreiro,
Antonio Silvino
Querendo dinheiro.
A infância melhor
Do mundo é a que tenho,
Sou menino feliz,
Sou menino de engenho.
Sou menino treloso,
Brincando na vida,
Banhando-me nas águas
Do Rio Paraíba,
Levando capim
Pro carneiro Jasmim,
Levando uma flor
Pra Zefa Cajá,
Ouvindo cantar
O meu Marechal,
Canário da terra
Mais especial.
A infância melhor
Do mundo é a que tenho,
Sou menino feliz,
Sou menino de engenho.
Mas viro Doidinho
Quando vou estudar,
Sentindo saudades
Do velho Pilar,
Da Tia Naninha
A me consolar,
Da velha Tontônia
No engenho a contar
Histórias bonitas
Pra gente sonhar,
Do Moleque Ricardo
Querendo brincar
E dos banhos de rio
Com Zefa Cajá!
Minha infância querida
Cantar aqui venho;
Fui menino feliz,
Fui menino de engenho.
O tempo passou
Com força de enchente,
Vi-me de repente
Sendo promotor,
Mas o menino de engenho,
Lá do Corredor,
Não quis me deixar,
Com saudade, sem par,
Lembrei meu avô,
Tornei-me escritor,
Cantei meu lugar!
Minha infância querida
Cantar aqui venho;
Fui menino feliz,
Fui menino de engenho.
* Esta obra está sendo publicada com uma Licença Creative Commons: pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original.
José Lins do Rego
Edição, Don Oleari – [email protected] –
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