lendas e fatos
Coluna AQUI RUBENS PONTES |
MEUS POEMAS DE SÁBADO
Como pode um líder negro pela abolição da escratura manter escravos no seu Quilombo?
Foi a primeira provocação do Editor Chefão a este colunista.
A segunda foi a lenda da cabeça de Tiradentes. Segundo nosso Editor, existem controvérsias a respeito do verdadeiro dono daquela cabeça, que não seria a de Tiradentes, a supostamente exposta em postes do antigo Rio de Janeiro.
Não será apenas entre nós que o fenômeno ocorre, mas a tendência de criar romantismo, heroísmo e elevadas virtudes humanas estará quase sempre intimamente ligada aos ideais humanos de superação.
Como (quase) nada passa despercebido ao Poderoso Chefão do Don Oleari Portal de Notícias, numa dessas tardes de intenso calor e um consequente dolce-far-niente regado ironicamente a suco gelado de laranja, aconteceu.
O tema, inicialmente levantado com alguma preguiça, ganhou espaços com a citação do inconformismo com Zumbi dos Palmares,
Zumbi manteve, ele próprio, escravos capturados em outros agrupamentos em regime de servidão – como escravos – no Quilombo que comandava.
E seguem as inconformidades:
1 – Rachel de Queiroz, defensora do golpe militar de 1964;
2 – jesuíta Manoel da Nóbrega (ele próprio descendente não confessado de africanos), defensor da escravidão no Brasil, mesmo se opondo ao trabalho compulsório de indígenas;
3 – José de Alencar escreveu cartas ao Imperador d. Pedro II defendendo a manutenção do sistema escravocrata, mostrando-se contrário à abolição;
4 – Carlos Drummond de Andrade e suas declarações homofóbicas: “nunca me senti à vontade diante de um homossexual. Sempre me causou certa repugnância”.
Haja espaço!
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A Inconfidência Mineira
Um dos episódios relacionados com a Inconfidência Mineira relata a prisão, a morte na forca e o esquartejamento do corpo do alferes Joaquim José da Silva Xavier, Tiradentes.
Herói que pagou com a morte – o único, entre todos os inconfidentes que se safaram, quase todos com penas de prisão no Brasil ou degredo na África.
Narra a História ter sido o corpo do Alferes Joaquim José da Silva Xavier ter sido esquartejado, depois do seu enforcamento no dia 21 de abril de 1792, e partes do seu corpo foram expostas em praças públicas como exemplo para quem se posicionasse contra o domínio de Portugal.
Sua cabeça ficou em exibição dependurada no alto de um poste em Vila Rica para que todos o vissem e medissem as consequências de atos de insubmissão contra o domínio português.
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A cabeça de Tiradentes
O Editor Chefão impôs reticências sobre o sumiço da cabeça do herói e o colunista pesquisou.
Sumiu mesmo e nunca foi encontrada e o autor do “furto” nunca foi identificado. Até ter sido identificado: depois de sua morte.
Nessas voltas que o Mundo continua dando, o escritor Bernardo Guimarães retornou à sua cidade de Vila Rica, ao terminar o curso de Direito em São Paulo.
Interessado no assunto, contatou e ouviu, meio em surdina, nas ruas da cidade, populares para inspiração de seus livros Escrava Isaura, O Seminarista, Histórias e Tradições da Província de Minas Gerais.
Vamos nos deter na última publicação, onde foi incluído o conto “A Cabeça de Tiradentes”, continuando a responder às provocações que me mandou o Editor Chefão.
Narra o texto que a cabeça do Alferes “ficou cravada no alto de um poste vigiado noite e dia por sentinelas”.
Em uma madrugada de forte neblina, comum em Vila Rica, escreveu Bernardo Guimarães, literalmente:
“Talvez considerando estar de guarda a um crâneo ressequido que a ninguém podia fazer mal e que longe de excitar cobiça só podia inspirar horror, o sentinela, sentado no chão, recostado sobre uma pedra e com a arma sobre os joelhos, adormeceu.
Um vulto rebuçado surge por entre as trevas, se aproxima cautelosamente e com uma vara comprida faz saltar do poste, apanha-a rapidamente e desaparece com ela nas trevas do nevoeiro”.
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Mistério desvendado
É ainda o grande escritor brasileiro Bernardo Guimarães quem socorre o Colunista, lembrando que muitos anos depois, como resultado de pacientes pesquisas, foi encontrada uma caveira, confirmada por seu vizinho ser a cabeça de Tiradentes, por eles reverenciada, na casa de um idoso cidadão recém falecido.
É assim a História. Factual ou ficcional, retrata sempre o que lemos, o que vivenciamos e o que guardamos, como verdade sem conflito na nossa imaginação. São lendas e fatos. Ou mitos.
Até que alguém, como o nosso Editor Chefão, muito incrédulo e, segundo diz, “desiludido com as mentiras de lendas e fatos que foi obrigado a decorar para tirar um mísero 5 nas provas do 5º ano e do ginásio”, exija mais lúcidos esclarecimentos…
O Poema deste sábado possui íntima ligação com a história narrada, onde foram plantados os alicerces da Independência do Brasil.
Cecília Meireles é autora.
Rubens Pontes, jornalista
Capim Branco MG
Romanceiro da Inconfidência
Cecília Meireles
(Trechos)
Fala inicial
Ó meio-dia confuso,
ó vinte-e-um de abril sinistro,
que intrigas de ouro e de sonho
houve em tua formação?
Quem ordena, julga e pune?
Quem é culpado e inocente?
Na mesma cova do tempo
cai o castigo e o perdão.
Morre a tinta das sentenças
e o sangue dos enforcados…
– liras, espadas e cruzes
pura cinza agora são.
Na mesma cova, as palavras,
o secreto pensamento,
as coroas e os machados,
mentira e verdade estão.
Cenário
O passado não abre a sua porta
e não pode entender a nossa pena.
Mas, nos campos sem fim que o sonho corta,
vejo uma forma no ar subir serena:
vaga forma, do tempo desprendida.
É a mão do Alferes, que de longe acena.
Eloqüência da simples despedida:
“Adeus! que trabalhar vou para todos!…”
(Esse adeus estremece a minha vida.)
Do ouro incansável
Por ódio, cobiça, inveja,
vai sendo o inferno traçado.
Os reis querem seus tributos,
– mas não se encontram vassalos.
Mil bateias vão rodando,
mil bateias sem cansaço.
Mil galerias desabam;
mil homens ficam sepultos;
mil intrigas, mil enredos
prendem culpados e justos;
já ninguém dorme tranqüilo,
que a noite é um mundo de sustos.
Descem fantasmas dos morros,
vêm almas dos cemitérios:
todos pedem ouro e prata,
e estendem punhos severos,
mas vão sendo fabricadas
muitas algemas de ferro.
Do negro das Catas
Já se ouve cantar o negro.
Que saudade, pela serra!
Os corpos, naquelas águas,
– as almas, por longe terra.
Em cada vida de escravo,
que surda, perdida guerra!
Já se ouve cantar o negro.
Por onde se encontrarão
essas estrelas sem jaça
que livram da escravidão,
pedras que, melhor que os homens,
trazem luz no coração?
Já se ouve cantar o negro.
Chora neblina, a alvorada.
Pedra miúda não vale:
liberdade é pedra grada…
(A terra toda mexida,
a água toda revirada…
Deus do céu, como é possível
penar tanto e não ter nada!)
Da destruição do ouro podre
Embaixo e em cima da terra,
O ouro um dia vai secar.
Toda vez que um justo grita,
um carrasco o vem calar.
Quem não presta, fica vivo:
quem é bom, mandam matar.
Do Contratador Fernandes
– Vinde esquecer a tristeza
ao calor do meu teatro,
onde representam vivos
os dramas de Metastásio
glórias e vícios do mundo
em luminoso retrato.
Vinde espairecer os sonhos,
e distrair os cuidados.
Nas palavras dos poetas
reclinai vosso cansaço.
Estes sítios tornam doce
o coração mais amargo!
Da traição do conde
Como as palavras se torcem,
conforme o interesse e o tempo!
Das lamentações no Tejuco
Maldito o Conde, e maldito
esse ouro que faz escravos,
esse ouro que faz algemas,
que levanta densos muros
para as grades das cadeias,
que arma nas praças as forcas,
lavra as injustas sentenças,
arrasta pelos caminhos
vítimas que se esquartejam!
(Doze mucamas em volta
gemiam com surda pena.
Pranto e diamantes caídos
era tudo um mar de estrelas.
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Edição, Don Oleari – [email protected] –
https://www.facebook.com/oswaldo.oleariouoleare
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