Mamãe
Um texto muito bonito e emotivo, com um tom delicado e tocante
A crônica de Mágda Carvalho foi “copigarfada” de uma página que ela mantém no feissibuqui. Na próxima, conto cumequi foi nosso papo feissibuquiano sobre um desejo dela de “voltar a escrever coisas” (Don Oleari).
Crônicas Extemporâneas
Mágda Carvalho
Eu devia ter uns cinco anos de idade quando o carteiro chegou aqui em casa com um telegrama na mão: “Dona Conceição”. Era ela a destinatária.
Na mesma hora em que leu o teor do bendito telegrama, mamãe caiu em um pranto de desespero e dor profunda. Chorava aos berros. Eu não quis nem saber o que estava acontecendo.
Nunca tinha visto minha mãe chorar daquele jeito. Me agarrei às suas pernas roliças, com avental e tudo, e também comecei a chorar. Aos berros.
A vizinhança acudiu.
O telegrama, que para a época era a espécie de gmail, whatsapp e redes sociais, chegou em mãos onde nem telefone existia. O conteúdo dizia algo como:
“Lamentamos informar a morte de seu finado pai. PT saudações.”
Nada que as vizinhas diziam acalmava o choro de mamãe. Ela tomou dois copos de água com açúcar. Alguém trouxe um calmante para o nervosismo. E nada de ela parar de chorar.
Foi quando João, com sua aura dourada de criança, se aproximou. Andou até ela, que estava sentada numa poltrona, e com as perninhas abertas, mãozinhas na cintura, perguntou com muita curiosidade, objetividade, sinceridade e inocência:
— Mamãe, por que a senhora está chorando?
— Seu vô, João. Seu vô foi pro céu, meu filho…
João, do alto de seus cinco anos, continuou:
— E daí?
Mamãe soluçava.
— Seu vô foi pro céu… Você não está entendendo…
Mas João não se abateu:
— Claro que estou entendendo. Olha, mamãe: o vovô ficou velho, foi pro céu. A senhora vai ficar velha, vai pro céu. Eu vou ficar velho, vou pro céu. É assim mesmo. Por que a senhora está chorando?
Mamãe, quando contava essa história, sempre dizia:
“Eu não conseguia entender como aquele Joãozico de nada, um pinguinho de gente, podia já reunir tanta sabedoria.”
E meu irmão foi, de fato, o melhor remédio que ela precisava para consolá-la. Neste dia, passamos um tempão, os três filhos, com ela, na cama de casal, contando e lembrando histórias do vovô Sebastião. E rindo! Ouso dizer até que foi uma tarde feliz…
Crônicas Extemporâneas
Mágda Carvalho – 13/11/24
Mágda Carvalho é jornalista
Mamãe
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