menino que vendia balas
COLUNA AQUI RUBENS PONTES |
MEUS POEMAS DE SÁBADO
jornalista
Como o menino que vendia balas nas ruas do Rio se tornou o patrono do romance brasileiro, Épica história da editora de Paula Brito.
Ouvimos o Editor Chefão do Don Oleari, Portal de Notícias dizer “braaaavoooo”, quando alguém na redação colocou uma questão que não havia sido até então levantada enquanto se falava de livros e seus autores:
– E os editores?
– Causa própria, sendo ele, além de tudo, também editor?
A memória recua no tempo e no espaço para se deter no ano de 1854 e nele um nome que marcaria o início da editoração profissional de livros no Brasil: Francisco de Paula Brito.
Em 1831, com 21 anos de idade, Paula Brito reuniu o dinheiro que ganhara como ajudante de farmácia, aprendiz de tipógrafo e redator em um jornal e comprou a “Imperial Typographia Dous de Dezembro” no Rio de Janeiro.
Abriu as portas do estabelecimento para escritores sem vez e sem voz, passando a editar seus trabalhos. E os remunerando por isso.
O desdobramento da iniciativa foi a criação da “Sociedade Petalógica”, um clube literário que funcionava nos fundos de sua casa, destinado a reunir jovens talentos das letras e músicos, em saraus regados a lundus e modinhas.
Entidade sem estatutos onde toda fantasia era permitida.
Voltando ainda mais um pouco no tempo, já, no entanto, mostrando seu perfil liberal e generoso, Paula Brito, que enfrentava ele próprio os desafios de sua cor e de sua origem humilde, contratou como auxiliar um jovem mulato de 16 anos de idade que vendia balas de coco na rua para ajudar as despesas da família.
Um ano depois, o adolescente admitido como auxiliar no trabalho da tipografia, passou a frequentar as reuniões da Petalógica, e redigiu seu primeiro poema, assinado com o nome do autor: Machado de Assis:
“Seus olhos brilham tanto
Que prendem tão doce encanto
Que prendem um casto amor
Onde com rara beleza
Se esmerou a natureza
Com meiguice e com primor.”
Seis anos mais tarde, em 1861, Paula Brito editou dois livros do mesmo jovem, lançando Machado de Assis, o mulato que vendia balas de coco nas ruas do Rio de Janeiro, no mercado editorial, e que, já consagrado como um dos grandes escritores brasileiros, criaria e seria o primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras.
Machado de Assis escreveu na despedida de Paula Brito, morto no ano de 1861:
“Paula Brito foi o primeiro editor digno desse nome que houve entre nós.”
Esta Coluna, presta sua homenagem ao homem negro de origem modesta e sem instrução formal, tipografo, livreiro, poeta, precursor da imprensa e do mercado literário no Brasil, como o conceituou a crítica Valeria Alves, pioneiro ao editar literatos brasileiros.
Foram 372 publicações que serviram de porta voz ao movimento literário nacional.
Um homem à frente de sua época, reconhecendo e valorizando a importância e a força da mulher no cenário das letras brasileiras, fundou em 1832 a pioneira revista “A Marmota”, voltada para esse público.
Como ilustração, o bem humorado poema “Desejo”, do homenageado deste sábado por Don Oleari Portal de Notícias e pelo autor da Coluna.
Rubens Pontes, jornalista.
Capim Branco, MG
Desejo.
(imitação do francês)
Paula Brito
A engraçada Josepliina,
Com sua tez bella e fina,
Seu cabello ennegrecido,
Sua graça no fallar,
C seu sympathico olhar,
O que é que ella quer?-
marido.
Ignez, toda desdenhosa,
Por parecer virtuosa,
Sempre em imperio fingido,
Quando diz a todo o instante
~ Eu não quero ter amante:
O que é que quer ter?
– marido.
A Theresinha, que em casa
A família traz em brasa,
Servida em todo o pedido,
Botando dinheiro fóra:
Porque se maldiz e chora?
O que lhe falta?
– marido.
Trata-se de matrimonio?
Diz Emília: « pois o Antonio,
Pedro, Braz, tenho escolhido;
Lindo, feio, Turco ou Gôdo,
Com qualquer eu me acomodo:
O que quero é ter
– marido.
Porque causa a Carolina
Toda se aperta (e se afina,
Sempre com lindo vestido
E com gosto em tudo raro’?
Ora, leitor, está claro,
O que e’la quer
– marido.
O que quer a Joannmha,
Em casa toda santinha,
Qual pecador convertido?
Mas quando a passeio sabe
Bem vestida sempre vai…
Ora, o que quer? quer
—marido.
Não é debalde que a Anninha
Morre por comer gallinha,
E que o doutor mais sabido
Co’a molestia não atina!
Ella não quer medicina:
O que ela quer
—- marido.
0 que quer a Fortunata,
Que, por ser feia, se mata
Nas contendas de Cupido,
E por bailes e concertos
Anda metida em apertos?
Claro está que quer
– marido.
Reparem na Mariquinha,
Hoje sempre enfeitadinha,
Mudando só de vestido,
Falando em cheiros e flores,
Sempre pensando em amores:
Para que? p’ra ter
– marido.
Toda a moça, feia ou bela,
O amante deve ter n’ela
Muita cautela e sentido;
E’ mui rara a que é constante:
Nunca se escolhe um amante,
Porém se escolhe um
– marido
menino que vendia balas
Edição, Don Oleari – [email protected] –
https://www.facebook.com/oswaldo.oleariouoleare
Celebrando o Dia Mundial do Escritor: uma homenagem aos criadores de mundos
Sportotal | Brasil vence | Botafogo: 2 X 1Uma noite literária imperdível com o escritor Francisco Aurélio Ribeiro
Semi finais: Rivaldo comenta as semifinais da Libertadores e Sul-Americana para a Betfair | 29/9
Marca paraibana apresenta solução inovadora ao mercado, descomplicando compra de móveis planejados