Quem somos[email protected]

Search

Rubens Pontes | Da Ucrânia ao Espírito Santo, poetas cantam emoções universais | Sonhe, de Clarice Lispector; Festa na Sombra. de Haydée Nicolussi | 2/9

Ucrânia ao Espírito Santo

Da Ucrânia ao Espírito Santo

COLUNA AQUI RUBENS PONTES

MEUS POEMAS DE SÁBADO

Rubens-Pontes-4-1-da-assinatura-1-e1682173951457.png
Rubens Pontes,
jornalista

 

Ucrânia ao Espírito Santo

Setembro chegou e com ele a expectativa de um mês florido e mais alegre. Neste inicio de mês comemoramos a Semana da Pátria, buscando no passado confirmação para isso e no presente sempre novas esperanças.

O Don Oleari, Portal de Notícias, abre espaços para ouvir a Rádio Clube da Boa Música no Spotfy, à leitura de um bom livro – me propondo reler “Dom Pantero no Palco dos Pecadores”, de Ariano Suassuna. E poesia, naturalmente,  que tudo em torno propicia, ao entardecer uma taça do meu vinho preferido, dos vinhedos de Mendoza, que me induzem aos sonhos irmanados a poemas que sempre me alçam às alturas do enternecimento.

Valho-me de um levantamento há algum tempo realizado na redação do www.donleari.com.br, selecionando – noblesse oblige – trabalhos de duas extraordinárias poetas, Haydée Nicolussi e Clarice Lispector, uma nascida na sede do município de Alfredo Chaves/ES, outra que teve por berço a distante e tumultuada Ucrânia. Ambas, brasileiríssimas.

clarisse-1-1.jpg 2 de setembro de 2023 23 KB
clarisse lispector

Clarisse Lispector

Veio da Ucrânia com a família para o Brasil ainda criança.

Adulta, tornou-se figura destacada no mundo intelectual brasileiro, fazendo compasso com a obra de notáveis poetas, escritores e jornalistas, tornando-se, ao lado de Guimarães Rosa e Machado de Assis, a maior presença nos cursos de literatura do País.

Além de poeta laureada, Clarisse Lispector se destacou como jornalista, inovando nas entrevistas, fazendo delas uma conversa íntima, escapando do modelo convencional do jornalismo dos anos 1940, em plena segunda guerra mundial.

Em 1968, na Revista Manchete, escreveu a coluna “Diálogos possíveis com Clarisse Lispector”, figurando entre os entrevistados Hélio Pelegrino, Chico Buarque, Fernando Sabino, Pablo Neruda, Vinicius de Moraes.

Além de um diálogo seco com sua fonte, a jornalista mantinha paralelamente uma conversa íntima com os entrevistados, uma conversa sobre temas caros aos seres humanos, como enfatiza o escritor paulista Marcel Verrimo (História bizarra da literatura brasileira – Editora Planeta), desbravando o insólito, tocando pontos que o jornalismo convencional da época não abordava.

Para a revista Manchete, Clarisse Lispector realizou 59 entrevistas para a coluna “Diálogos Possíveis” e outras 24 para a coluna “Fatos e Fotos”. A grande jornalista e poeta faleceu no dia 9 de dezembro de 1977, mês do nascimento de outra grande poeta.

hayde-nicolussi-1-1.jpeg2 de setembro de 2023 18 KB
hayde nicolussi

Haydée Bourguignon Nicolussi

O segundo gênio da arte de criar versos que cantam abordado nesta Coluna é o da fascinante poeta Haydée Nicolussi, nascida na sede do município de Alfredo Chaves no dia 14 de dezembro de 1905.

Morou em Vila Velha/ES, estudou em internato no Rio de Janeiro, antes de de voltar para o Espírito Santo, até que um vaivém previsível fê-la retornar ao Rio de Janeiro para cursar a “British American School”.

Em 1926, publicou um soneto na “Revista Capichaba”, e no ano seguinte vários contos voltados para temas bíblicos, místicos e indigenistas, assinados com pseudônimo  BH”.

No ano de 1929, obteve repercussão nacional com “História quase triste”, classificado em primeiro lugar no concurso nacional de contos da revista “O Cruzeiro”, semanário de maior circulação no País.

 nicolussi-2.jpg 2 de setembro de 2023 20 KBHaydée Nicolussi não esperou muito tempo para ganhar notoriedade. Seus trabalhos passaram a ser publicados em órgãos da imprensa brasileira.

No ano de 1931, Haydée mudou residência para o Rio de Janeiro e passou a escrever para “O Jornal” e para as revistas “Canaã” e “Vida Capichaba”.

Foi no Rio que a poeta aderiu ao marxismo, quando Carlos Drummond de Andrade chamou-a de “Revolucionária Romântica”. Em 1932 foi detida pela polícia local e voltou ao Espírito Santo, refugiando-se em Alfredo Chaves.

Em 1935, voltou a ser detida e conduzida à Casa de Detenção do Rio de Janeiro, onde manteve contato com outros presos, mencionados em livros de Graciliano Ramos – “Memórias do Cárcere” – e na biografia de Olga Benário, escrita por Fernando Morais.

A partir desse período de inquietação política, nossa grande poeta passou a viver sucessivos tempos mais saudáveis. Na década de 1940, nomeada escritora interina do Ministério da Educação, voltou a estudar, tendo publicado obras com poemas e prosa.

Em dezembro de 1943, foi convidada pelo diretor geral do Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico para realizar pesquisas em arquivos e bibliotecas dos Estados Unidos sobre a história da arte no Brasil. Em 1950, como bolsista do governo francês e com o diploma da língua, realizou o curso de “Civilização Francesa”.

Retorno e morte

O estado de saúde de Haydée Nicolussi foi agravado pelo ritmo acelerado imposto à sua vida na Europa, levando-a a retornar ao Brasil. Voltou a publicar trabalhos em versos e em prosa, tendo seu “O cisne de Asselyn” inserido no “Diário de Notícias, do Rio de Janeiro em 1951.

Jornalista, escritora, poeta, poliglota, tradutora, revolucionária, uma mulher sempre à frente do seu tempo, Haydée Nicolussi faleceu no dia 17 de fevereiro de 1970, em seu apartamento em Copacabana.

Ao receber a notícia da morte da poeta que tanto admirava, Carlos Drumond de Andrade escreveu:

“Noticia vária.

A bonita moça, loura…que nos anos 40 chegava ao Ministério da Educação para protestar contra a injustiça, a deslealdade e a burrice no curso que vinha fazendo na repartição…que oferecia seus livros de versos com intenção de carícia mesmo no mais leve arranhão… que tinha relâmpagos de raiva escondendo a ternura machucada… Que oferecia seus versos a quem queria viver 100 anos de amor com o mesmo homem, em casa própria, com filhos, livros, alguns amigos… a moça de repente sumiu, literalmente sumiu, nunca mais ninguém a encontrou nas exposições de pintura, nos concertos, nos bares, não publicou mais uma palavra.

Abro o jornal e vejo o retângulo tarjado:

“Sepulta-se hoje às 16 horas.” 

O Don Oleari, Portal de Notícias, sente-se agraciado ao abrir espaço para a Coluna publicar dois poemas de duas extraordinárias poetas – da Ucrânia ao Espírito Santo – também mulheres admiráveis:” Festa na Sombra” e “Sonho”.

Rubens Pontes, jornalista

Capim Branco, MG

Fonte: Francisco Aurélio Ribeiro, membro da Academia Espírito-santense de Letras

Sonhe

Clarice Lispector

Seja o que você quer ser,

porque você possui apenas uma vida e nela só se tem uma chance

de fazer aquilo que quer.

Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.

Dificuldades para fazê-la forte.

Tristeza para fazê-la humana.

E esperança suficiente para fazê-la feliz.

As pessoas mais felizes não têm as melhores coisas.

Elas sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seus caminhos.

A felicidade aparece para aqueles que choram.

Para aqueles que se machucam.

Para aqueles que buscam e tentam sempre.

E para aqueles que reconhecem a importância das pessoas que passam por suas vidas.

Festa na Sombra

Haydée Nicolussi

Por que as mãos se apertam assim geladas?

E essas auroras sem sol? E essas noites sem lua?

Música, chora sozinha no escuro de minha inocência morta:

O Mal tem tanto poder quanto o Bem e quebrou

os lampadários de Deus nas almas angustiadas.

 

Peregrinos da sombra caminhamos

numa alegria contraditória e constrangida:

– esbanjamos energias em favor dos saciados.

Racionamos a fé entre vidas vazias.

 

Ah! Nunca seremos puros bastante para a fusão total.

Niké, perderás a cabeça, como sempre, ao fim de todas as batalhas…

Teu sorriso, Augias – Cresus, está oco de angústia.

Tua afirmação já não contenta ninguém: é insegura.

 

Senhor, que faremos de nossa ilusão estraçalhada?

Nós já sabemos tudo. Deciframos a esfinge de todos os tempos.

Não é a fé que encoraja: é o acerto na luta.

São os temperamentos ajustados.

É a liberdade de possuir ao menos o suficiente para

recusar o supérfluo, em honra aos mais dotados!

 

Festa na sombra de todas as horas, triste baile da esperança,

desmoronando-se em sonhos-pesadelos.

Amor? Glória? Infância? Onde a posse de nós mesmos?

Festa de ausências, de todas as ausências,

festa no escuro subterrâneo do desencanto e da dúvida.

De nada vale a luz da carne moça, que amanhece cansada,

com tanto BLACK-OUT nas almas, conscientes de sua orfandade.

Ucrânia ao Espírito Santo

Edição, Don Oleari – [email protected]

https://www.facebook.com/oswaldo.oleariouoleare

Arena Baby chega ao bairro Glória, em Vila Velha/ES, neste sábado, dia 2 | 1/9

Luiz Felipe Bazzo, CEO do transferbank: Bolsa fecha em alta após PIB melhor que esperado e dólar cai | 1/9

Rivaldo: “Zagallo comprou briga com o Romário para me levar para os Jogos Olímpicos” | 1/9

Larissa Rodrigues, do Recreio da Juventude de Caxias do Sul, disputa seletiva para Jogos Parapan-Americanos | 31/8

Don Oleari - Editor Chefão

Don Oleari - Editor Chefão

Radialista, Jornalista, Publicitário.
Don Oleari Corporeitcham

Posts Relacionados