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Rubens Pontes: Urubus passeiam pelo céu, evitam epidemias, dão nome a centros de treinamento, mas não jogam futebol

Urubus

Urubus passeiam pelo céu, evitam epidemias, dão nome a centros de treinamento, mas não jogam futebol

AQUI RUBENS PONTES

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R, Pontes,

NEC = Nota do Editor Chefão, Don Oleari | Uma surpreendente e rica pesquisa, aliando a lendária “marca” do Flamengo à crônica de uma ave abominada por 11 em cada 10 seres ditos humanos. Confesso que jamais tive a curiosidade de pesquisar os urubus.

Portanto, era até este momento um inguinoranti absoluto sobre as características e importância da abominável ave das carniças. Ave, Rubens Pontes! Valeu pela bela surpresa. Viva o carniceiro! E, por que não? Viva o Mengão! Lá no final veja um treiler do clássico O Corvo com os inesquecíveis Vincent Price, Boris Karlof e Peter Lore (Don Oleari).

Muitos dias decorridos desde quando, na redação do Portal Don Oleari – www.donoleari.com.br – falava-se genericamente sobre futebol e 4 entre 7 de nós revelaram-se flamenguistas.

Dos sete, um confessou-se torcedor do São Cristóvão, um do Fluminense e outro do Vasco da Gama).

 urubu-rei-mengao-1.jpgMas surpresos ficamos todos por não saber, nenhum de nós, porque se associou o nome de Urubu ao Centro de Treinamento “Jorge Helal” – Ninho do Urubu no bairro de Vargem Grande, Rio de Janeiro.

Reinaugurado em 2018, tornou-se o mais moderno Centro de Treinamento da América Latina e um dos maiores do mundo, possuindo, além de confortáveis alojamentos, cinco campos de futebol, moderno parque aquático e uma academia.

O tempo passou e a lembrança daquele encontro voltou agora à memória do colunista, confortavelmente sentado em sua varanda com visão panorâmica de doces e suaves montanhas cantadas por Guimarães Rosa, tomando uma taça de vinho Merlot das adegas de Mendoza, divagando e buscando no formato das nuvens figuras por elas indistintamente formadas e logo desfeitas pelo vento que do Sul sopra sem pressa para Oeste.

 urubu-voando-rubens-2-1-1.jpgUrubus

Planando sem esforço, asas abertas, passeia no alto um sereno urubu.  Acompanho suas evoluções como se para ele o céu fosse formado.

De uma altura de três mil metros, onde habitualmente comete suas evoluções, o urubu enxerga um animal morto graças à sua excelente visão. Seu olfato é ainda mais acurado, sentindo o cheiro de carniça a incrível distância de cinquenta quilômetros.

Aí entramos nós

A sabedoria inata do urubu surpreende até a nós, os humanos. Não são caçados porque sua carne não é palatável; não são capturados e presos em gaiolas porque não cantam; não são perseguidos pelo homem porque não disputam seus espaços.

Não se sabe se são premonitórios, mas seus filhotes nascem brancos. Como é prática notória, do lado de cá, uma política hipócrita de proteção até governamental, buscando discriminadamente por lei abrir novos espaços às pessoas negras em todas as áreas da sociedade, o urubu muda sua cor branca como nasce e em preto se transforma. Sabe-se lá?

Mesmo não se alheando, por que com eles conviveram, à história de negros que nunca precisaram ajuda externa branca para se projetarem, Machado de Assis, Abdias do Nascimento, o Aleijadinho, Pelé, Maria Quitéria, Luiz Gonzaga da Gama, João da Cruz, Gilberto Gil, Martin Luther King e Barack Obama, eleito presidente do maior país do mundo ocidental.

Importância ecológica 

A alimentação dos urubus contribui de maneira decisiva para diminuir a propagação de doenças, com a ingestão de animais mortos e outros materiais orgânicos em estado de decomposição, diminuindo a propagação de doenças pelo fato de conterem as carcaças bactérias causadoras do botulismo, raiva e cólera. Graças aos urubus, o antraz, doença grave infecciosa causada pelo bacillus anthracis, não é propagada através do contato ou contaminação do ambiente infectado.

Urubus não  transmitem doenças aos humanos

Em áreas onde não há urubus, as carcaças levam de três ou quatro anos para se decompor.

O valor do pH do suco gástrico do urubu é dez vezes mais ácido do que dos seres humanos.

E mais. Enquanto se alimentam, urubus costumam defecar e urinar em cima das carcaças, e como seus dejetos são muito ácidos, evitam que haja proliferação de doenças.

Ao contrário do que se possa pensar, os urubus não são animais sujos, passando, quando pousados, o dia inteiro se limpando.  O “allopreening” é o comportamento do grupo onde se limpam uns aos outros. Como não têm penas na cabeça nem no pescoço, os urubus não acumula restos alimentares e uma possível contaminação por micro-organismos.

Urubus  – do gregogyps – têm vida por até 30 anos, de acordo com a espécie e das condições do ambiente em que vive.

 edgar-alan-poe-o-corvo-1.jpgUrubus têm data

O primeiro sábado de setembro é o “Dia Internacional da Conscientização sobre os urubus”.

A data tem o objetivo de sensibilizar sobre a importância que os urubus têm para o ambiente e para nós e chamar a atenção para ameaça que eles correm, como, por exemplo, o desmatamento e as urbanizações.

Urubus

Flamenguistas ou não, deve haver expressiva maioria de torcedores brasileiros que, olhando para o alto, possam ver, com novos olhos e melhor coração, a evolução de um sereno urubu de asas abertas ao sabor das correntes de ar que cruzam nosso admirável e inescrutável céu azul.

 o-corvo2-600x264-1.jpgO poema ilustrativo que valoriza – e como! – a Coluna é “O Corvo”, de Edgar Alan Poe.

E mais, traduzido pelo mineiro/capixaba Milton Amado, apontado como superior a todos os outros, inclusive a de Machado de Assis.

Rubens Pontes, jornalista

Capim Branco, MG

O Corvo

Edgar Allan Poe

Tradução de Milton Amado

 

Foi uma vez: eu refletia, à meia-noite erma e sombria,

A ler doutrinas de outro tempo em curiosíssimos manuais,

E, exausto, quase adormecido, ouvi de súbito um ruído,

Tal qual se houvesse alguém batido à minha porta, devagar.

“É alguém, fiquei a murmurar, que bate à porta, devagar;

Sim, é só isso e nada mais.”

 

Ah! claramente eu o relembro! Era no gélido dezembro

E o fogo, agônico, animava o chão de sombras fantasmais.

Ansiando ver a noite finda, em vão, a ler, buscava ainda

Algum remédio à amarga, infinda, atroz saudade de Lenora

Essa, mais bela do que a aurora, a quem nos céus chamam Lenora

E nome aqui já não tem mais.

 

A seda rubra da cortina arfava em lúgubre surdina,

Agarrando-me de convocar os hidroméis desconhecidos das sepulturas.

De susto, em pávida arritmia, o coração veloz batia

E a sossegá-lo eu repetia: “É um visitante e pede abrigo.

Chegando tarde, algum amigo está a bater e pede abrigo.

É apenas isso e nada mais.”

 

Ergui-me após e, calmo enfim, sem hesitar, falei assim:

“Perdoai, senhora, ou meu senhor, se há muito aí fora me esperais;

Mas é que estava adormecido e foi tão débil o batido,

Que eu mal podia ter ouvido alguém chamar à minha porta,

Assim de leve, em hora morta.” Escancarei então a porta:

Escuridão, e nada mais.

 

Sondei a noite erma e tranquila, olhei-a a fundo, a perquiri-la,

Sonhando sonhos que ninguém, ninguém ousou sonhar iguais.

Estarrecido de ânsia e medo, ante o negror imoto e quedo,

Só um nome ouvi (quase em segredo eu o dizia) e foi: “Lenora!”

E o eco, em voz evocadora, o repetiu também: “Lenora!”

Depois, silêncio e nada mais.

 

Com a alma em febre, eu novamente entrei no quarto e, de repente,

Mais forte, o ruído recomeça e repercute nos vitrais.

“É na janela”, penso então. “Por que agitar-me de aflição?

Conserva a calma, coração! É na janela, onde, agourento,

O vento sopra. É só do vento esse rumor surdo e agourento.

É o vento só e nada mais.”

 

Abro a janela e eis que, em tumulto, a esvoaçar, penetra um vulto:

É um Corvo hierático e soberbo, egresso de eras ancestrais.

Como um fidalgo passa, augusto e, sem notar sequer meu susto,

Adeja e pousa sobre o busto, uma escultura de Minerva,

Bem sobre a porta; e se conserva ali, no busto de Minerva,

Empoleirado e nada mais.

 

Ao ver da ave austera e escura a soleníssima figura,

Desperta em mim um leve riso, a distrair-me de meus ais.

“Sem crista embora, ó Corvo antigo e singular”, então lhe digo

“Não tens pavor. Fala comigo, alma da noite, espectro torvo!”

Qual é teu nome, ó nobre Corvo, o nome teu no inferno torvo!”

E o Corvo disse: “Nunca mais.”

 

Maravilhou-me que falasse uma ave rude dessa classe,

Misteriosa esfinge negra, a retorquir-me em termos tais;

Pois nunca soube de vivente algum, outrora ou no presente,

Que igual surpresa experimente: a de encontrar, em sua porta,

Uma ave (ou fera, pouco importa), empoleirada em sua porta

E que se chame “Nunca mais”.

 

Diversa coisa não dizia, ali pousada, a ave sombria,

Com a alma inteira a se espelhar naquelas sílabas fatais.

Murmuro, então, vendo-a serena e sem mover uma só pena,

Enquanto a mágoa me envenena: “Amigos? sempre vão-se embora.

Como a esperança, ao vir a aurora, ele também há de ir-se embora.”

E disse o Corvo: “Nunca mais.”

 

Vara o silêncio, com tal nexo, essa resposta que, perplexo,

Julgo: “É só isso o que ele diz; duas palavras sempre iguais.

Soube-as de um dono a quem tortura uma implacável desventura

E a quem, repleto de amargura, apenas resta um ritornelo

De seu cantar; do morto anelo, um epitáfio: o ritornelo

De “Nunca, nunca, nunca mais”.

 

Como ainda o Corvo me mudasse em um sorriso a triste face,

Girei então numa poltrona, em frente ao busto, à ave, aos umbrais

E, mergulhado no coxim, pus-me a inquirir (pois, para mim,

Visava a algum secreto fim) que pretendia o antigo Corvo,

Com que intenções, horrendo, torvo, esse ominoso e antigo Corvo

Grasnava sempre: “Nunca mais.”

 

Sentindo da ave, incandescente, o olhar queimar-me fixamente,

Eu me abismava, absorto e mudo, em deduções conjeturais.

Cismava, a fronte reclinada, a descansar, sobre a almofada

Dessa poltrona aveludada em que a luz cai suavemente,

Dessa poltrona em que ela, ausente, à luz cai suavemente,

Já não repousa, ah! Nunca mais?

 

O ar pareceu-me então mais denso e perfumado, qual se incenso

Ali descessem a esparzir turibulários celestiais.

“Mísero!, exclamo. Enfim teu Deus te dá, mandando os anjos seus,

Esquecimento, lá dos céus, para as saudades de Lenora,

Sorve-o nepentes. Sorve-o, agora! Esquece, olvida essa Lenora!”

E o Corvo disse: “Nunca mais.”

 

“Profeta!? brado? Ó ser do mal! Profeta sempre, ave infernal

Que o Tentador lançou do abismo, ou que arrojaram temporais,

De algum naufrágio, a esta maldita e estéril terra, a esta precita

Mansão de horror, que o horror habita, imploro, dize-mo, em verdade:

Existe um bálsamo em Galaad? Imploro! Dize-mo, em verdade!”

E o Corvo disse: “Nunca mais.”

“Profeta!” exclamo. “Ó ser do mal! Profeta sempre, ave infernal!

Pelo alto céu, por esse Deus que adoram todos os mortais,

Fala se esta alma sob o guante atroz da dor, no Éden distante,

Verá a deusa fulgurante a quem nos céus chamam Lenora,

Essa, mais bela do que a aurora, a quem nos céus chamam Lenora!”

E o Corvo disse: “Nunca mais!”

“Seja isso a nossa despedida! Ergo-me e grito, alma incendida.

Volta de novo à tempestade, aos negros antros infernais!

Nem leve pluma de ti reste aqui, que tal mentira ateste!

Deixa-me só neste ermo agreste! Alça teu voo dessa porta!

Retira a garra que me corta o peito e vai-te dessa porta!”

E o Corvo disse: “Nunca mais!”

 

E lá ficou! Hirto, sombrio, ainda hoje o vejo, horas a fio,

Sobre o alvo busto de Minerva, inerte, sempre em meus umbrais.

No seu olhar medonho e enorme o anjo do mal, em sonhos, dorme,

E a luz da lâmpada, disforme, atira ao chão a sua sombra.

Nela, que ondula sobre a alfombra, está minha alma; e, presa à sombra,

Não há de erguer-se, ai! nunca mais

https://twitter.com/donoleari

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Don Oleari - Editor Chefão

Don Oleari - Editor Chefão

Radialista, Jornalista, Publicitário.
Don Oleari Corporeitcham

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