Civilidade
…Por outro lado, de onde bolsonaristas tiraram que têm o direito de ir aos restaurantes da chef Paola gritar, ameaçar seus funcionários…
Por Lena Mara
Bem que se diz – e já faz tempo – que “quem fala o que quer ouve o que não quer”.
E é o que aconteceu com a chef Paola Corasella, argentina naturalizada brasileira, que dias atrás, numa entrevista a um podcast, declarou que acha muito difícil conviver com bolsonaristas, ou porque é “escroto ou burro”. Imediatamente, como era de se esperar, bolsonaristas caíram de pau em cima, com uma enxurrada de manifestações que foram de sugestão pra que volte pra sua terra a boicote a seus restaurantes e até ameaças a funcionários de suas casas.
Deixei passar uns dias pra escrever sobre isto, porque impulsividade nunca foi boa companhia.
Meu Deus, o que foi feito da civilidade neste país? Alguns dirão:
“Ué, mas ela não tem direito de, como brasileira que é, emitir sua opinião a respeito de bolsonaristas”?
E eu digo: claro que tem. E é justamente aí que se aplica o ditado “quem fala o quer ouve o que não quer”, não é mesmo?
Por outro lado, de onde bolsonaristas tiraram que têm o direito de ir aos restaurantes da chef Paola gritar, ameaçar seus funcionários, dizer que eles vão ficar desempregados porque as lojas vão fechar por falta de clientes e, cúmulo do absurdo, dizer que vão tacar fogo em tudo e eles vão morrer queimados?
O que é isto, gente? O lance é mesmo este, incitar a violência, tacar o terror? Curioso é que não vi nenhuma manifestação raivosa de bolsonaristas quanto à execução, por funcionários concursados da Polícia Rodoviária Federal, de um homem negro, indefeso, desarmado numa câmara de gás express em Sergipe. Que coisa, né? Eles não conseguem enxergar isto não, ou a indiferença é mesmo a manifestação de apoio?
Dia atrás, conversando com um casal queridíssimo que nos recebeu para um capelleti e um vinho – aliás, acabou sendo 3 garrafas – falávamos sobre isto. Falávamos sobre o desconforto e o constrangimento permanente em que a população brasileira vive hoje nesta dualidade pobre, imbecil, burra, que é: ou você é lulista ou você é bolsonarista incondicionalmente.
As pessoas se recusam a raciocinar, ninguém analisa criticamente nenhum dos dois lados, como se esses dois seres em questão fossem infalíveis e se suas correntes de pensamento e ação fossem absolutamente assertivas. NÃO SÃO, meus caros. Os fatos estão aí pra comprovar.
Temo muito, confesso, qual será o clima no Brasil com o resultado das eleições de outubro/novembro, independente de quem seja o vencedor. Mas clamo com toda a ênfase possível: PRECISAMOS ENCONTRAR O EQUILÍBRIO. Do contrário, estaremos condenados a ficar mais doentes do corpo e da alma do que já estamos. Porque a cabeça já foi pras ….. (vocês sabem pra onde).
Mas voltando ao episódio da Paola Corasella. Tô achando que a reação dos bolsonaristas não deu muito certo. Uma grande amiga que vive em Sampa e que trabalha nas imediações da Avenida Paulista, contou-me que não sabia das lojas de empanadas da chef e que descobriu uma a dois quarteirões do seu local de trabalho.
Resultado: no final do dia, ela e mais 6 pessoas foram até lá pra comer empanadas e tiveram que aguardar 15 minutos na fila. E que as empanadas são de-li-ci-o-sas. Já pedi o endereço. A-mo empanadas. Planejo voltar a Buenos Aires pra comer várias no restaurante El San Juanino, na Recoleta. Bolsonaristas, desculpem, mas o Marketing de vocês foi poderosíssimo! Marketing reverso, mas com muito poder. Mesmo!
E, dona Paola Corasella, menos, bem menos. A senhora deve ter bons motivos pra deixar sua terra e escolher viver no Brasil. A consciência de estar vivendo em outro país e o juízo/desconfiômetro, recomendam: boi em terra alheia é vaca. Pense sobre o que isto quer dizer e vai entender que prudência e canja de galinha, educação e civilidade não fazem mal a ninguém. Em nenhum país do mundo.
Não que você – ou qualquer outra pessoa que escolha viver num país que não o seu – não possa emitir sua opinião sobre qualquer assunto, mas não perca de vista que quem está sendo atingido pode não ter o equilíbrio e a civilidade que se deseja e faça valer a máxima de que quem fala o que quer ouve o que não quer. E, minha cara, seu desgaste, desnecessário, foi grande. Ah foi!
http://www.paolacarosella.com.br/
Civilidade é bom
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