Da Abolição à Proclamação
Da Abolição à Proclamação – 13 de maio de 1888 – 15 de novembro de 1889 – a história do Brasil tem sido contada de formas diversas. E muitas vezes, distorcidas ou omissas.
ESPECIAL DATAS
ARTIGO |
Manoel Goes Neto
No mês de novembro, celebramos a Consciência Negra. O dia 20 de novembro é uma data simbólica para relembrar as lutas dos movimentos negros pelo fim da opressão provocada pela escravidão.
Essa data marca a morte de Zumbi (1695), figura histórica e símbolo de resistência, importante líder do Quilombo dos Palmares, situado no Nordeste do Brasil.
Neste contexto, é importante também refletirmos sobre a significativa participação dos negros no Brasil, muitos dos quais foram sequestrados e escravizados, vindos da África.
Promulgada em 1888, a Lei Áurea – promoveu a abolição da escravatura, um marco que, ao mesmo tempo em que possibilitou a modernização do trabalho no Brasil, desagradou aos grandes latifundiários.
Estes, então, uniram-se ao movimento republicano e pediram o fim do Império, o que resultou na Proclamação da República em 1889, após um ano de mobilizações.
A abolição da escravatura no Brasil ocorreu com mais de 50 anos de atraso, tornando o país o último da América Latina a libertar os povos escravizados, com mais de 700 mil libertos.
Essa conquista foi fruto da luta dos próprios escravizados, de seus descendentes, do movimento abolicionista e da sociedade civil brasileira.
No entanto, a abolição foi um processo gradual e complexo, antecedido por medidas paliativas como a Lei do Ventre Livre (1871) e a Lei dos Sexagenários (1885), que retardaram a liberdade plena, pois os fazendeiros e outros escravagistas também se insurgiram contra elas.
As elites brasileiras, especialmente os fazendeiros, relutavam em abrir mão do trabalho escravo. Apesar de receberem compensações de Dom Pedro II, muitos preferiam continuar utilizando o trabalho escravo em vez de pagar por mão de obra assalariada.
Em 1890, o Marechal Deodoro da Fonseca assumiu o governo provisório, tornando-se o primeiro presidente da República Velha, período que se estendeu entre 1889 e 1930.
Após a queda do Império, Dom Pedro II retornou a Portugal com sua família. O mandato de Deodoro foi marcado por instabilidade e durou até 1891.
Ele dissolveu o Congresso Nacional e decretou estado de sítio, enfrentando forte oposição tanto de parlamentares quanto de militares.
Em resposta, os estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul iniciaram uma revolta na Baía de Guanabara, que gerou um clima de guerra civil.
Em 23 de novembro de 1891, Deodoro renunciou, sendo sucedido por seu vice, Marechal Floriano Peixoto, que completou o mandato até 1894 e deu continuidade ao projeto republicano.
Passados 135 anos desde a Proclamação da República, ainda estamos debatendo, em um país com mais de 54% de sua população composta por negros, o racismo estrutural.
Cada vez mais se torna necessário revisar e discutir a história negra do Brasil, uma história que foi negligenciada nos livros de história tradicionais, adotados nos currículos escolares.
É fundamental que adotemos uma perspectiva afrocentrada ao analisar os eventos históricos, revisando os fatos com uma análise crítica, sem cair no revisionismo.
Devemos olhar para a história do Brasil a partir da perspectiva das pessoas negras, refletindo sobre a participação decisiva dos negros nos principais momentos da nossa história.
Essa participação foi ampla e fundamental, e também é necessário investigar como os brancos se relacionaram com os eventos que resultaram nos problemas que enfrentamos até hoje.
O Brasil, um país rico em recursos e com grande potencial, ainda convive com a pobreza e a desigualdade, infelizmente. De modo geral, a visão do branco brasileiro é pouco interessada em perceber-se como responsável pelo que ocorreu no passado.
É claro que existem pessoas brancas comprometidas com a luta antirracista, e devemos muito do conhecimento a essas pessoas, cujas contribuições foram e continuam sendo essenciais.
No entanto, a maioria dos brancos parece pouco disposta a enfrentar essas questões, pois é mais cômodo não lidar com elas. Isso mantém as estruturas de privilégio intactas.
Ao mesmo tempo, é importante reconhecer que há diferentes formas de branquitude no Brasil.
Existem as elites, que se beneficiam de forma clara da desigualdade, e as pessoas brancas que, mesmo estando na base da sociedade, também usufruem de certos privilégios, devido à estrutura racial do país.
Mesmo as pessoas brancas pobres, em um país marcado pelo racismo, acabam sendo beneficiadas pelo sistema de privilégios racialmente determinado.
Devemos ser pacientes com as pessoas brancas mais pobres, que, muitas vezes, não tiveram acesso à educação de qualidade e não conseguem compreender como, apesar de suas próprias dificuldades, também são beneficiadas pela estrutura racial.
Como explicar a alguém que trabalha 14, 16 horas por dia, se endividando constantemente, que ela possui privilégios? A resposta está no diálogo.
Precisamos dialogar e educar, ajudando essas pessoas a compreenderem a profundidade do racismo e os efeitos dessa herança histórica na sociedade brasileira.
Manoel Goes Neto – Produtor cultural, escritor e diretor no IHGES
Da Abolição à Proclamação
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