Barra do Sahy
Instalações voltadas para cultura, lazer, prática esportiva, dentre outros, são consideradas investimento em consumo e luxo. Porém, sabemos que são importantes para a formação da cidadania.
Artigo | Turismo
Alda Luzia Pessotti
Após quase doze anos para rever parentes e descansar, no período do Natal retornei à Barra do Sahy, uma das praias mais procuradas do litoral de Aracruz/ES durante a temporada de verão.
Evidente que antes bisbilhotei na internet para reservar hospedagem no miolo da vila e inteirar-me do que ela oferecia aos turistas, além de banho de mar. Na primeira vez que lá estive a avenida à beira-mar era de terra batida.
A propaganda oficial canta os encantos que a vila oferece: “infraestrutura como quiosques, restaurantes, pousadas, comércio em geral, além de seu formato de enseada com 3 km de extensão”.
Acrescento duchas e lixeiras espalhadas pela orla; ruas e avenidas asfaltadas, coleta de lixo, serviço de água e esgoto, energia elétrica, telefonia fixa e móvel, creche, educação infantil e ensino fundamental públicos, posto de saúde etc. Enfim, serviços necessários básicos para atender os residentes locais e turistas.
Mas, o que ela oferece aos moradores e turistas para lazer, turismo e prática esportiva, além do tradicional “levantamento de copos” na praia, nos bares, quiosques e restaurantes?
Oferece carência de locais públicos permanentes que propiciem congraçamento e entretenimento àqueles que estão de férias e, óbvio, aos moradores, que têm de dividir seus espaços públicos com o aumento intermitente da população no verão e feriados prolongados, com o aumento de veículos, carros de som, trio elétrico, entre tantos modismos que a mídia oferece para animar o litoral.
Sem praça e sem ciclovia
Não há praça pública, mas uma quadra ou largo aberto, pavimentado e descoberto, onde os eventos municipais são realizados, com palcos armados para acolher os participantes, público e barraca de vendas de comestíveis e bebidas - instalação comum no meio urbano, que veio para ficar.
A vila carece de playground para a criançada, quadras de vôlei e basquete, jogo de bocha, quadra de futebol society para uma boa pelada, biblioteca, dentre instalações de baixo custo que humanizam o ambiente urbano.
Sem ciclovia, sem demarcação de vagas para carros nas avenidas e ruas, sem estacionamentos definidos para bicicletas, motos e ônibus de turismo, mas com seus quebra-molas pintados, atualmente redutores de velocidades.
Com avenidas e ruas de mão dupla sem demarcação central, é possível imaginar a improvisação que acarreta a acomodação de tantos turistas, que estabelecem suas próprias regras de ocupação das ruas e avenidas com os carros.
Sou exigente? Penso que não. Caminhar em suas calçadas não arborizadas ao sol escaldante de verão é para corajosos e só é possível com chapéu e guarda-sol.
Ornamentá-las, as calçadas, com Jasmim do Caribe (foto: Plumeria pudica), que os locais denominam Jasmim do Deserto, seria opção de baixo custo, visto que essa planta floresce o ano inteiro e é resistente ao sol e vento.
A instalação do estaleiro Jurong e o terminal portuário Imetame em Barra do Riacho, prolongamento de Barra do Sahy, tem ocasionado um “boom imobiliário” na região.
Possível constatar, na foto capturada na internet, que não há terrenos vazios no miolo da vila para construção de praças e equipamentos arrolados por esta nativa de Aracruz, nascida em Ribeirão do Sapé, bairro do distrito de Guaraná.
Adaptações de residências em moradias diversificadas para aluguel de quartos, é constante. Desse modo, a arborização desses locais dá espaço para o comércio imobiliário.
O verde cede espaço para a alvenaria. A igreja católica, edificada no centro da vila, tradição do Brasil colônia, é exceção com seu amplo pátio, que funciona como ponto de convergência dos fiéis.
Visto dessa maneira, a vila de Barra do Sahy não foge aos padrões de ocupação do solo de nosso litoral desde sempre.
Instalações voltadas para cultura, lazer, prática esportiva, dentre outros, são consideradas investimento em consumo e luxo. Porém, sabemos que são importantes para a formação da cidadania.
Chamar de praça um espaço aberto sem cobertura, sem árvores, bancos, iluminação permanente, sem um símbolo que a identifique, soa insólito. Mas, enfim, o empobrecimento da língua portuguesa acompanha os movimentos do empobrecimento imposto pela cultura de massa (Alda Luzia Pessotti).
Alda Luzia Pessoti é professora aposentada da Ufes (Universidade Federal do Espírito Santo/BR).
Barra do Sahy
Edição, Don Oleari – [email protected] –
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